domingo, 8 de dezembro de 2013


08 de dezembro de 2013 | N° 17638 P
AULO SANT’ANA

A Árvore da Serra

As árvores foram verdadeiros personagens da minha infância.

As árvores foram personagens vivos da minha infância.

Até pelas próprias aroeiras, que por vezes, ao me encostar nelas, me produziam urticária, foram personagens que me inspiraram afeto e respeito.

Sem falar nas árvores frutíferas que me alimentaram durante mais de 10 anos nas minhas travessuras de garoto infante.

Eu subia nas goiabeiras para me empanturrar de seus frutos, goiabas brancas ou goiabas róseas.

Trepava também nos coqueiros, que davam coquinhos deliciosos. Não precisava trepar nas amoreiras nem em alguns butiazeiros. Eles eram de fácil alcance para nós, meninos.

Mas, de todas as frutas que povoaram minha infância, as pitangas me foram as mais proverbiais. Ah, se lembro o quanto eu passava as tardes me lambuzando do suco anil ou vermelho das pitangas. Eu enchia latas de pitangas e as levava para casa, tal a fartura dos frutos silvestres que eram produzidos e se entregavam facilmente às minhas mãos.

Os figos, estes só havia em pomares cultivados, daí que só furtando-os das chácaras cercadas podia atingi-los.

Os araçás, a estes eu só tinha acesso quando viajava a Guaíba ou Tapes, lugares em que havia tanta abundância desses frutos, que, se não me engano, um distrito de um desses dois municípios hoje se tornou independente e se chama exatamente Araçá.

Esqueci-me de dizer que a paisagem da Chácara da Bananeiras, onde vivi toda a minha infância, era repleta de marias-moles, o amarelo coloria os campos. Seus frutinhos não eram comestíveis.

E também esqueci de que havia muito por lá de mata-cavalos, um fruto que se parecia com o juá, só que este nós comíamos, mas os primeiros continham uma advertência de nossos pais ou dos meninos mais velhos de que eram venenosos.

Voltando às árvores, os eucaliptos foram personagens altivos da minha infância, assim como as figueiras. Estas davam figos miúdos, muito deliciosos e plenos de sementes. Mas os caules dessas figueiras eram os preferidos dos moleques para escalá-los.

Fui um menino que cresci entre os vegetais, na maioria silvestres. O verde dominava a paisagem da minha infância, colorido sempre pelo amarelo dos frutos e das folhas. Raras eram as folhas vermelhas, mas havia elas também.

O caleidoscópio das flores e das frutas compõe uma das melhores lembranças que guardo da infância.

E o amor que nós tínhamos pelas árvores pode ser ilustrado em quatro versos de Augusto dos Anjos, que bradava para um lenhador que não derrubasse a árvore do seu quintal, em vão:

E quando a árvore olhando

a pátria serra

Caiu aos golpes do machado bronco

O moço triste se abraçou

com o tronco


E nunca mais se levantou da terra.

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