sábado, 17 de janeiro de 2009



17 de janeiro de 2009
N° 15851 - PAULO SANT’ANA


Xavante vai ser maior

Imagino a delegação do Brasil de Pelotas retornando para casa dentro de um ônibus que fura a noite, 29 pessoas dormindo, aquela estrada tediosa, o motorista é o único eventualmente acordado.

E lá se ia o ônibus, todos passaram o dia viajando, depois jogando uma partida de futebol, havia fadiga e vontade de chegar em casa.

E lá se ia o ônibus. Escrevi outro dia aqui neste mesmo espaço que existe até um aviso idiota em alguns ônibus: “Não converse com o motorista”.

Como, não converse com o motorista? Se ninguém conversar na escuridão da noite com o motorista, acaba o motorista dormindo.

Uma ou duas pessoas de uma excursão, pelo contrário, têm de ser escaladas para conversar com o motorista. Têm de manter alerta o motorista. Têm de distrair o motorista.

Não há nada pior, não há quadro mais propício a uma tragédia do que todos dormindo dentro de um carro ou de um ônibus e só o motorista acordado, dirigindo.

O sono que domina o ambiente contagia o motorista.

Como é que o motorista declarou que não conseguiu vencer a curva?

Só não vence a curva quem a desconhece, quem a estava desconsiderando.

Um jogador do Brasil de Pelotas que estava no ônibus, conta-me o Lauro Quadros, declarou que o motorista já tivera, momentos antes do acidente, estremecimentos na direção, incertezas, perdia o controle incidentalmente sobre o percurso.

E aquele homem sozinho, sem dormir desde manhã cedinho, varando a noite na direção, com todos dormindo na sua retaguarda.

Silêncio absurdo no ônibus. Toda a responsabilidade da viagem recaída sobre um homem só, em vigília, o motorista.

Todas as tintas da tragédia estavam prontas para serem pintadas, não só nesta viagem, mas em todas as viagens de motoristas maldormidos e sozinhos, transportando delegações ou passageiros de linha.

O motorista que leva não pode ser o mesmo que traz. E, enquanto o time jogava a sua partida de futebol, o motorista tinha de estar dormindo, repousando, preparando-se para estar desperto, alerta, inteiro para a volta.

Se o motorista permaneceu acordado enquanto o time do Xavante jogava a sua partida na localidade de Vale do Sol, tudo estava errado.

Porque a viagem de Pelotas para Vale do Sol, o almoço, o jogo de futebol, a janta, tudo isso demandava um longo tempo. Esse motorista tinha que obrigatoriamente descansar.

Se não descansou, como se intui, isso tem a ver com a tragédia.

Tanto a viagem de ida e volta quanto esse tempo todo que a delegação passou longe de Pelotas só podiam causar cansaço.

E tanto causou, que todos dormiam dentro do ônibus quando aconteceu o acidente.

Só o motorista tinha a obrigação de ficar acordado. Ele não é de ferro.

E existem curvas na estrada. São inúmeros os perigos de uma estrada.

E o trânsito, este faminto devorador de vidas, saiu no dia 1° de janeiro para matar o mundo inteiro e o mundo inteiro não lhe mata a fome.

A imensa dor que percorreu o Rio Grande com a tragédia sofrida pelo ônibus do Brasil de Pelotas tem agora de servir para que o Brasil de Pelotas reúna forças para reerguer-se e tornar-se ainda mais digno e prestigiado do que até agora tem sido.

Um imenso respeito pela adoração que a torcida tem por seu clube resta como uma grande admiração de todos.

O Xavante é eterno e vai sair ainda maior deste acidente deste trágico e desolador acidente.

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