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sábado, 9 de agosto de 2008
09 de agosto de 2008
N° 15689 - MOACYR SCLIAR
Câncer é uma palavra, não um veredito
O câncer é uma doença conhecida há muito tempo. Referências a respeito são encontradas em papiros egípcios escritos há mais de três milênios. O termo em si também é antigo.
Foi criado por ninguém menos que o médico grego Hipócrates (460-370 a.C.), o pai da medicina. Hipócrates usou os termos carcinos e carcinoma para descrever tumores. O famoso médico romano Celso traduziu carcinos como “cancer” e o termo ficou.
E também a conotação. Tanto carcinos, em grego, como cancer, em latim, querem dizer caranguejo, por causa do formato de certos tipos de tumor. O caranguejo não é exatamente um bicho simpático:
aquelas pinças agarram a presa com uma força tal que muitas vezes uma pessoa atacada se vê obrigada a cortá-las. Mas essa, infelizmente, não foi a única metáfora, a única comparação que o câncer gerou.
Ao longo do tempo, a palavra foi usada para designar inimigos, situações nocivas, problemas. Hitler dizia que os judeus eram “o câncer da Alemanha” (imaginem como deveria se sentir um judeu com a doença num campo de concentração: ele era o câncer no câncer, duplamente condenado).
O famoso caso Watergate, que derrubou o então presidente Nixon, dos Estados Unidos, foi rotulado por um assessor como “um câncer no governo”.
A escritora americana Susan Sontag, que teve câncer, escreveu um pequeno livro de muita repercussão, intitulado A Doença como Metáfora, no qual analisa três enfermidades que foram, e não raro continuam sendo, estigmatizantes:
a tuberculose, o câncer e a aids. Até 1882, quando se descobriu o micróbio causador da tuberculose, a enfermidade era considerada a praga da era romântica, ligada às paixões exacerbadas, à vida desregrada – La Bohème.
Com o câncer, foi diferente: tratava-se de uma doença da paixão reprimida, acometendo alguém emocionalmente inerte, um perdedor. Susan Sontag chamava a atenção para a carga de culpa aí implícita: a enfermidade não era apenas um problema orgânico, era “o” Mal, obrigando o paciente a interrogar-se (e a acusar-se) constantemente:
“Onde foi que eu errei?”. Resultado: as pessoas evitavam até mesmo dizer a palavra. O popular ator americano John Wayne, que teve um câpncer de pulmão, referia-se à sua doença como “The Big C”.
Para averiguar o efeito que isso tem sobre as pessoas, três pesquisadores australianos, Robert J. Donovan, Geoffrey Jalleh e Sandra C. Jones, compararam, num grupo de 112 pacientes, as reações à palavra “câncer” e à expressão “um câncer”.
Essa última despertou menos reações negativas, o que é fácil de entender: quando falamos de “um câncer”, estamos delimitando o problema, o que é uma pré-condição para enfrentá-lo melhor, com mais tranqüilidade. Câncer, como diz em título de livro o Dr.
Robert Buckman, oncologista de Toronto, não é um veredito. É uma situação com a qual muitos de nós vamos nos deparar, mais cedo ou mais tarde.
E é bom que o façamos com a coragem e a tranqüilidade recentemente demonstrada pelo vice-presidente José Alencar, que enfrenta a doença com bravura e ainda encontra forças para transmitir aos brasileiros uma mensagem confortadora.
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