quinta-feira, 7 de agosto de 2008



07 de agosto de 2008
N° 15686 - LETICIA WIERZCHOWSKI


Aos oitenta

Juventude é ouro. Se você é muito jovem, sorte sua. Se não é, existem clínicas que podem resolver esse inconveniente. O resultado é que temos hoje uma legião de pessoas parecidas circulando por aí.

Elas pairam num limbo de faixa etária indefinida – no caso das mulheres, basta andar por determinados locais das grandes cidades, e você cruza com incontáveis réplicas, todas com a mesma boca, o mesmo nariz e as mesmas pálpebras, a mesma cor de cabelo, e os mesmos endereços na agenda – a vaidade levada quase ao ridículo.

Está bem, como disse Phillip Roth, ser velho não tem graça nenhuma: vem a doença, a decrepitude, e os amigos se vão. Mas há um espaço entre beleza e ruína, entre juventude e velhice, entre o começo e o fim –

é o exercício pleno da capacidade intelectual, é a madureza bem administrada, prolongada com os conhecimentos da medicina atual, e, vá lá, um pouco de sorte. Tem gente aí com setenta, oitenta anos, batendo um bolão. Gente que fala e os outros escutam.

Gente cujas palavras calam fundo, que enchem auditórios, recheiam galerias de arte, publicam livros incríveis. Exemplos? O já idoso filósofo Edgar Morin, segundo me contaram, foi de longe a melhor palestra que o Fronteiras do Pensamento trouxe até agora.

Flavio Damm, oitenta anos completos, um mestre da fotografia em preto-e-branco, está com mostra no Margs desde a última terça-feira (a sua oitava mostra individual).

E Sérgio da Costra Franco, que também está completando seus oitenta neste mês de agosto, segue nos brindando com belos livros sobre a história do Rio Grande do Sul, e com a sua sabedoria impressionante – ele que é o nosso historiador por excelência.

Aliás, Sérgio da Costa Franco vai estar hoje no Studio Clio, às 19h30min, participando do Encontros com o Professor, um grande programa capitaneado pelo Ruy Carlos Ostermann.

Assim, sem pieguice nem nada, a passagem do tempo não traz somente estragos. Não vale apostar todas as fichas numa clínica de cirurgia plástica. Esqueçamos as rugas.

O mundo está cheio de bons livros, e eles seguem sendo editados aos milhares diariamente, o mundo está cheio de boa música, de galerias, de museus e de bibliotecas.

Se a gente chegar aos oitenta arranhando a fímbria da cultura do Seu Sérgio, já valeu.

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