quinta-feira, 3 de maio de 2018


03 DE MAIO DE 2018
NÍLSON SOUZA

O TEMPO E O PAJADOR



O ambiente de uma feira ecológica, como a que frequento aos sábados no bairro Tristeza, costuma ser tranquilo e afetivo, com vendedores e clientes tratando-se amavelmente, e a vida transcorrendo quase no mesmo ritmo em que as frutas e verduras levam para se desenvolver. Na semana passada, porém, cheguei apressado para as compras habituais, pois tinha assumido o compromisso de acompanhar na mesma manhã uma palestra sobre o grande pajador Jayme Caetano Braun. Observando minha agitação, uma amiga e experiente feirante me questionou:

- Tu sabias que a Terra está girando mais depressa e os dias estão mais curtos?

Nunca tinha ouvido falar nisso. Pensei logo em crendice. Mas ela justificou:

- A tese é esta: o excesso de energia no ar, causado por motores, aparelhos eletrônicos, celulares e computadores, estaria fazendo o planeta girar mais rapidamente.

Claro que sorri irônico, mas prometi investigar o assunto. E, tão logo foi possível, corri para a internet, sem ligar para o fato de que a minha pesquisa poderia acelerar ainda mais o planeta. Pois não é que a teoria existe mesmo? Com base na Ressonância Schumann, um estudo sobre ondas eletromagnéticas existentes entre a superfície da Terra e a ionosfera, surgiu a hipótese de que o dia já diminuiu de 24 horas para 16 horas - e nem os humanos nem os seus relógios se deram conta disso.

Alguns textos atribuem a descoberta ao próprio doutor Winfried Otto Schumann, que já não está mais entre nós para confirmar ou desmentir. Outros dizem que é coisa de seus seguidores na Universidade UTN de Munique. Para mim, soa absurdo, ainda que os dias pareçam mesmo cada vez menores.

Naquele sábado, por exemplo, corri o que deu, fiz o meu rancho de orgânicos e ainda cheguei na livraria Erico Verissimo a tempo de assistir à bela palestra da escritora Danci Caetano Ramos sobre seu primo. Com sua invejável memória, ela declamou conhecidas pajadas do poeta e ainda revelou versos inéditos que ficaram apenas no âmbito familiar.

Talvez por falta de tempo, deixou de fora as rimas que ele fez exatamente para definir a relação do homem com a passagem dos dias - e que de certa forma, nesta última estrofe, abordam a questão levantada por minha ecológica amiga: "Guardar dias pro futuro / É sempre a grande tolice / O juro é sempre a velhice/ E de que adianta este juro/ Se ao índio mais queixo duro / O tempo amansa no assédio / Gastar é o melhor remédio / No repecho e na descida / Porque na conta da vida/ Não adianta saldo médio!".

Portanto, curto ou não, aproveitemos o dia.

NÍLSON SOUZA

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