terça-feira, 1 de maio de 2018


01 DE MAIO DE 2018
CARLOS GERBASE

UM LONGO TEMPO JUNTOS


A velocidade é um dos dogmas da modernidade, e as coisas muito velozes tendem a durar pouco. Um minuto de fama no Face, uma noite de amor pelo Tinder, um mês de namoro - metade do tempo pelo Whats - e um ano de casamento morando juntos numa quitinete da Cidade Baixa. E lambe os beiços! Pra muita gente é mais rápido ainda. 

Quem procura consolo contra essa efemeridade crônica pode recorrer a um poderoso elixir: um boa história seriada, capaz de construir personagens que nos acompanham por um longo período, de modo que podemos conhecer sua intimidade, seus defeitos e suas qualidades, seus sonhos e suas decepções.

Na literatura tenho um velho conhecido: Harry "Coelho" Angstrom, criado por John Updike, que me acompanhou por cinco romances. Quando Coelho morreu jogando basquete, uma das poucas coisas que lhe davam prazer na vida, chorei como se tivesse perdido um amigo do peito. Há pouco reencontrei Hari Seldon, o psico-historiador de Isaac Asimov que surgiu em Fundação, a famosa trilogia de ficção-científica dos anos 1940. Estou lendo os prólogos e as continuações que Asimov escreveu nos anos 1980-90. São mais quatro romances. Já conheço Seldon melhor do que conheci meu pai.

Nos seriados de TV, essa intimidade surgiu em relação a toda Família Soprano, a Don Drapper, de Mad Men, a Walter White, de Breaking Bad, e, em especial, à maravilhosamente louca Carrie Mathison, de Homeland. Se pudesse, eu ofereceria um jantar para todos na minha casa, e tenho certeza que a conversa seria boa. Na saída, eu me ofereceria para cuidar da filhinha da Carrie enquanto ela salva o mundo entre seus surtos psicóticos. Essa é a grande mágica das melhores séries: proporcionar um relacionamento sólido, que resiste a eventuais crises e consegue manter dois personagens (um deles é você) por um longo tempo juntos.

A partir de 8 de maio, dois fãs assumidos de séries televisivas, eu e Luís Mário Fontoura, vamos dar um curso sobre o assunto na PUCRS. Essa e outras mágicas das histórias seriadas serão abordadas em oito encontros, planejados para interessar tanto a simples espectadores, quanto a candidatos a "show-runners". Se a TV não nos oferece um amigo para a vida toda, por que não criá-lo sob encomenda?

CARLOS GERBASE

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