segunda-feira, 7 de maio de 2018


07 de Maio de 2018
+ ECONOMIA

TANGO VOLTA A CAUSAR ARREPIO DO LADO DE CÁ


Se a alta acumulada do dólar de 10% no Brasil desde o início do ano já provoca nervosismo, não é preciso muita imaginação para projetar o efeito de salto quase na mesma proporção só na semana passada na Argentina. Houve pânico. Na quinta-feira, a moeda americana disparou 7,6%. Acomodou-se no dia seguinte, mas o alívio temporário não dá garantias de que não haverá novo efeito tango respingos da crise no Brasil.
 
As cenas de argentinos lotando casas de câmbio fizeram a melodia típica do país voltar a provocar arrepio do lado de cá da fronteira. Ainda mais em uma tão próxima quanto a do Rio Grande do Sul com as províncias de Corrientes e Misiones. Acionou a memória de crises como a quebra de 2001, quando houve o maior calote da história, a estagnação do início da década, o cepo cambial (restrição de uso de dólares, portanto de importações) nos anos que antecederam o governo Macri.
 
Quem guarda lembrança viva desses períodos é o atual presidente da Abicalçados, Heitor Klein. Em nome da entidade que representa fabricantes de sapatos de todo o Brasil, Klein tem vasta milhagem de negociação com argentinos. E andava feliz.
 
- Não por coincidência, a Argentina havia voltado a ser a maior compradora de calçados do Brasil - observa.
 
Absorvendo 20% da exportação brasileira, a Argentina apenas havia passado os Estados Unidos entre os maiores clientes externos de sapatos brasileiros. Além do volume, destaca Klein, é um mercado de alta qualidade, em que os consumidores reconhecem e pedem marcas brasileiras.
 
- A preocupação é grande. Não só com o calçado, mas com a situação geral - afirma Klein.
No curto prazo, os calçadistas têm fôlego: acabaram de embarcar as encomendas da coleção outono-inverno, com produtos de maior valor. A coluna quis saber se já pagaram - dado o histórico da relação. O presidente da Abicalçados explicou que cada empresa tem sua estratégia. Mas deu para sentir o suspense.
 
- Seria pior se fosse em janeiro. O calendário nos salvou, mas em julho vamos negociar a coleção primavera-verão - projeta.
 
Situação mais tensa do que a dos calçadistas é a da indústria automotiva, que acelera a venda ao Exterior enquanto a economia brasileira roda em velocidade muito lenta. De janeiro a abril, foram para a Argentina 90% dos veículos exportados pelo Brasil. Klein avalia que as explicações conhecidas até agora para o salto cambial não satisfazem:
 
- No momento em que se souber o que realmente causou essa disparada, será possível saber se foi um susto ou se é nova crise.
 

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