segunda-feira, 28 de novembro de 2016



28 de novembro de 2016 |N° 18700 
DAVID COIMBRA

Quem foi o melhor? Médici ou Fidel?

Para o punhado de desmiolados que invadiu o Congresso gritando “queremos general”, dias atrás, a ditadura militar se justificava porque dava segurança e desenvolvimento.

Para os intelectuais que prantearam a morte de Fidel Castro, neste fim de semana, a ditadura cubana se justifica porque dá saúde e educação.

O que justifica uma ditadura?

Na verdade, não é segurança, desenvolvimento, saúde ou educação. Tanto para os esquerdistas quanto para os direitistas brasileiros, a ditadura se justifica quando é a “minha” ditadura. O ditador dos outros é mau, o meu é bom.

A esquerda brasileira é filha intelectual de Fidel Castro. Ele e Che Guevara são os grandes heróis românticos de pelo menos duas gerações de esquerdistas, em substituição a Stálin, desmitificado por Kruschev em 1956.

Esse sonho juvenil é sempre defendido por argumentos juvenis, a ditadura é relativizada e tem seus méritos comparados com os defeitos da democracia.

De fato, as democracias se diferenciam por seus defeitos e as ditaduras se diferenciam por suas qualidades. O que iguala as ditaduras é um único defeito: todas elas, absolutamente todas, deformam o caráter do povo que submetem. E o que iguala as democracias é também um só predicado: elas são o antídoto contra o veneno do autoritarismo deformador das ditaduras.

Não é possível comparar uma ditadura com uma democracia.

É possível comparar duas ditaduras.

Qual delas restringiu mais as liberdades: a ditadura militar brasileira ou a ditadura cubana?

A ditadura cubana matou muito mais opositores. Pelo menos 20 vezes mais.

Um cubano só sai do país com permissão do governo. No Brasil dos generais, qualquer um podia sair quando quisesse.

No Brasil, o mesmo ditador nunca ficou no poder por mais de quatro anos. Fidel permaneceu no mando durante metade de sua longa vida.

Seria a ditadura militar brasileira “melhor” do que a cubana?

Não.

Todas as ditaduras são ruins.

Já a democracia é difícil. A democracia negaceia, é lenta, tem imprensa fiscalizando, tem gente na internet escrevendo o que bem entende, tem advogado defendendo e acusando, tem juiz que condena e absolve, tem habeas corpus, tem debate, tem discordância, tem eleição de candidato de que a gente não gosta.

A democracia é uma chatice.

Crescer é uma chatice. A gente precisa assumir responsabilidades, tomar decisões, fazer por si mesmo.

A Europa precisou ser destruída por duas guerras para aceitar a democracia como um bem em si e rejeitar a priori qualquer ditadura.

O Brasil, exatamente por não ter passado por tamanho trauma, ainda sofre os efeitos da atuação do seu primeiro ditador, Getúlio Vargas.

Não é por acaso que os abilolados que invadiram o Congresso gritaram “queremos general”. Não é por acaso que os românticos da esquerda sonham com o benfazejo “comandante” ou com algum pai dos pobres.

Quem é o seu ditador favorito?

Você suspira pelo comandante Fidel, aquele ali anseia pelo general Médici. Não briguem, podem se abraçar. Vocês são iguais.

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