09 de novembro de 2016 | N° 18682
DAVID COIMBRA
Minha previsão de 2014
Dizem, os americanos, que nunca houve tanta agressividade numa eleição como na de agora. Acredito. Ouço discursos espantosamente parecidos com os que ouvi durante a eleição brasileira de 2014. Trump acusa Hillary de corrupção, como Aécio acusava Dilma. E, ontem, Hillary disse que é preciso “unir um país dividido”, como disse Dilma, depois de eleita.
Por sinal, falando em país dividido, vou aproveitar para me exibir. Reproduzirei abaixo um pequeno texto que publiquei em 26 de outubro de 2014 sob o título “As consequências da eleição de Dilma”. Eis:
“O que essa eleição acirradíssima traz para o Brasil?
1. Um país dividido, inclusive geograficamente.
2. Uma presidente cercada de denúncias de corrupção, consciente de que mais, muitas mais, e muito mais graves, virão a público nos próximos meses.
3. Um candidato da oposição que começou a disputa desacreditado e terminou já como o principal nome para 2018. Isso não significa apenas uma conquista pessoal de Aécio. Significa que a oposição terá uma solidez e uma liderança que nunca teve nesses 12 anos de governo do PT. Para quem não lembra, em 2002 Fernando Henrique chegou a ser acusado de ‘torcer’ pela vitória de Lula.
Junte tudo isso aos problemas econômicos que o governo terá de enfrentar nos próximos anos, que serão de pagamento da conta feita até agora com a gastança pública e o inchaço do Estado.
Qual é o resultado?
Resposta:
Um governo frágil, que terá de compor desesperadamente uma base aliada.
O PMDB vai mandar como nunca no Brasil”.
Eu não disse? O continuísmo, quase que de regra, faz mal. Agudiza as diferenças, transforma adversários em inimigos, fermenta os defeitos e desgasta as virtudes.
São raros os casos em que um executivo consegue permanecer em paz no cargo, tendo sido reeleito muitas vezes. Aqui, em Boston, houve um. Chamava-se Thomas Menino, e venceu cinco eleições consecutivas para prefeito. Morreu no ano passado, de câncer, causando grande consternação entre os bostonianos. Não foram poucos os que me disseram que a cidade é o que é graças a ele.
Isso não é comum e, quando acontece, se dá em uma cidade, dificilmente em um país.
O PRI, no México, é um trágico exemplo do que pode produzir o continuísmo. O PRI deveria ser o partido herdeiro de Zapata e Pancho Villa. Transformou-se em um repositório de políticos corruptos, que só se movem pelo poder. Pelo poder eles fazem tudo, aceitam tudo, permitem tudo. Conheço outros lugares assim.
Os americanos têm essa percepção instintiva, de que é importante fazer a renovação de oito em oito anos. Junte, então, essa tendência com outra, a reação ao politicamente correto, tão ruidosamente expressada por Trump, e você entende os motivos do que os velhos comentaristas de futebol chamariam de disputa renhida.
Escrevo em meio à apuração, na madrugada de terça para quarta. O resultado ainda está indefinido, mas sei que o que ocorre nos Estados Unidos quase sempre antecede o que ocorrerá em outras partes do mundo. Temo pelo Brasil de 2018.
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