15 de novembro de 2016 | N° 18687
EDITORIAL
A FALÊNCIA DO ESTADO
Anos de administração irresponsável e populismo levaram os Estados brasileiros à falência financeira. Endividados, sem recursos até mesmo para honrar o compromisso com a folha de servidores, os governadores pedem socorro ao Planalto, que também está com os cofres raspados e tenta aprovar projetos de austeridade no Congresso para manter a governabilidade. Apesar dos efeitos danosos a toda a sociedade, a quebra é da administração pública e não do regime democrático ou mesmo da nação brasileira. Foi a má gestão dos políticos que levou ao caos atual, o que significa que o país só poderá sair dele com boa gestão e com seriedade administrativa.
Se já era preocupante, a falência do setor público nas três instâncias da federação passa a inquietar ainda mais com a acelerada piora registrada agora nas projeções sobre a retomada do crescimento da economia brasileira. As estimativas de retração do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 saltaram de 3% para 3,5%, e já há quem fale em crescimento zero no próximo ano.
Nesse cenário adverso, em que a arrecadação tende a seguir abaixo das necessidades, os governadores cumprem o seu papel ao pressionar o governo federal por saídas para a crise, mas a tática gera mais instabilidade para o país do que soluções para os Estados. Sinal disso é que o acordo da dívida, recém fechado, produziu um alívio apenas temporário. Atualmente, o que mais preocupa é um déficit de no mínimo R$ 64 bilhões nas previdências estaduais.
O poder público enfrenta hoje as consequências de décadas sucessivas de má gestão. Quem arca com a conta da irresponsabilidade fiscal são os contribuintes, pois não há saída fora da austeridade, cujo custo precisa ser compartilhado por todos, indistintamente.
AS FRAUDES NO ENEM
Demonstrou eficiência a Polícia Federal ao identificar e prender fraudadores do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no início deste mês. A reportagem apresentada na noite de domingo pelo programa Fantástico impressiona tanto pela ousadia e organização da quadrilha quanto pela desonestidade dos estudantes que tentam se beneficiar do esquema delituoso, especialmente na busca de vagas em cursos disputados, como o de Medicina.
A PF fez duas operações para combater os fraudadores em oito Estados, prendendo 14 pessoas. Na operação Jogo Limpo, foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão. Na operação Embuste, os policiais desmontaram uma organização criminosa que transmitia respostas da prova para candidatos de três Estados. Merece aplausos a polícia, mas ainda falta o principal: esclarecer como os quadrilheiros tiveram acesso ao gabarito de uma das provas com antecedência. É uma explicação que o Ministério da Educação ainda está devendo.
Enquanto esse fato não for esclarecido, com a devida responsabilização de quem deixou vazar a informação sigilosa, a prova continuará sob suspeita. O Enem de 2016 já contabiliza três anormalidades: a transferência para outra data das provas marcadas para escolas ocupadas, a coincidência do tema da redação com uma simulação do ano passado e, agora, esse gabarito antecipado por meio de fraude.
Quando um processo educacional tão importante como o Enem vira caso de polícia, o mínimo que se pode esperar de parte das autoridades é um choque de transparência que esclareça todas as dúvidas.
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