12 de novembro de 2016 | N° 18685
PIANGERS
Durma bem
Ouvi dizer que um médico americano ou francês desenvolveu um método de criação de filhos, em que os pais que querem adquirir mais autonomia e tornar seus filhos mais independentes devem ignorar o choro do bebê. É um método que diz que deixar a criança chorando no quarto até cansar faz ela entender que precisa resolver as coisas sozinha, de forma a diminuir as vezes que pedirá auxílio aos pais ao longo da vida.
Lá em casa somos adeptos de outro método, não sei se desenvolvido por médico americano ou francês, que consiste em sair correndo desesperadamente sempre que o bebê esboça qualquer barulho de reclamação e deixá-lo dormir no nosso quarto até fazer 45 anos. Por segurança, nos primeiros anos as crianças dormem em uma cestinha ao lado da cama.
Depois pulam pra nossa cama. Por apego ou praticidade, elas dormem por perto, dificultando enormemente nossa capacidade de fazer mais filhos. Ter filhos é o melhor método anticoncepcional do mundo. Quando assistimos ao filme Onde vivem os monstros, aquelas figuras peludas dormindo amontoadas, minha mulher disse: “Parece a gente”.
Jamais vou esquecer uma amiga que, adepta do que os livros indicam, nunca deixou o filho dormir com ela. Me contou que uma vizinha perdeu o filho em um acidente e lhe disse que daria tudo pra “novamente dormir pelo menos uma noite abraçada ao filho”. Minha amiga me disse que a partir daquele dia passou a entender que cada pai é de um jeito. E, eventualmente, dorme abraçada com o filho.
A cama dos pais é como se fosse um ninho, um lugar mágico em que nenhum medo pode chegar. É um campo de força, um local de demarcação abençoada. Nenhum mal jamais nos acontecerá enquanto estivermos juntos. Sentindo nossas respirações pesadas durante a noite. Sonhando as mesmas coisas. Sentindo suas pequenas mãos crescendo, enquanto as seguro. Durmam bem, minhas filhas. Serão para sempre bem-vindas.
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