quinta-feira, 17 de novembro de 2016



17 de novembro de 2016 | N° 18690 
PAULO GERMANO

Michel Temer e Lula Lelé

Não tenho filhos, mas pretendo tê-los, e uma coisa tem me preocupado. Sei que é um pouquinho, digamos, específico demais, mas alguém precisa falar sobre os nomes dos animais marinhos nos desenhos animados. Pelo bem das nossas crianças, já passou da hora de protestarmos contra os nomes dos animais marinhos nos desenhos animados.

Aquele personagem do Pica-Pau, por exemplo, o Leôncio. Com esse nome, qualquer um diria que se trata de um leão-marinho, certo? Errado! O nome original do Leôncio é Wally Walrus, e walrus é morsa, portanto o Leôncio é uma morsa. Só que morsas só existem no Polo Norte, então imagine a frustração de uma criança ao procurar os dentões e o bigodão do Leôncio em um leão-marinho desses que aparecem em Cidreira: a criança vê aquela boca mole bocejando, entra em depressão e se mata.

Um caso semelhante é o da Lula Lelé, que, pelo amor de Deus, não tem nada de lula. Já falei com mais de 10 biólogos, mostrei fotos dos mais variados ângulos da Lula Lelé, e todos me confirmaram que se trata de um polvo. Porque o polvo é que tem a cabeça arredondada, enquanto a lula tem formato de tubo. Aliás, o Lula Molusco, do Bob Esponja, é polvo também. Como podem batizar um personagem que é um bicho com o nome de outro bicho? Ora, francamente.

E tem aquele peixe amigo da Pequena Sereia, o Linguado. Mas da onde que aquilo é um linguado??? Vocês já viram um linguado? É um peixe todo desgraçado, tem o corpo achatado, os dois olhos no mesmo lado da cabeça, a cor é marrom como terra, o coitado vive se arrastando no fundo do mar, aí vem a Pequena Sereia e chama de Linguado aquele abobado colorido e gordo. Ah, me poupem! E poupem nossas crianças de tanta desinformação!

Não estou criticando uma licença artística, como no curioso caso do Pluto e do Pateta, que são personagens da mesma turma, mas, incrivelmente, o primeiro é um cachorro com vida de cachorro e o segundo é um cachorro com vida de humano. Aceito essa incoerência, aceito inclusive que o Pateta namore uma vaca e que o dono do Pluto seja um camundongo, aceito também que o Pato Donald, embora não use calças, continue enrolando toalhas na cintura quando sai do banho, mas jamais aceitaria que o Pato Donald se chamasse Pinto Donald, ou que o Pica-Pau se chamasse Tico-Tico. Simplesmente porque eles não são nem pinto nem tico-tico.

Agora, quando desrespeitam os nomes de animais marinhos, aí todo mundo aceita. É hora de enfrentar esse absurdo, não é possível que nossas crianças estejam fadadas a jamais diferenciar uma lula de um polvo!

Mas preciso reconhecer que estamos avançando. Depois do Roda Viva de segunda-feira, quando seis jornalistas abordaram assuntos de extrema importância com Michel Temer – entre eles, seu primeiro encontro com Marcela, o romance que está escrevendo e o costume de usar mesóclises em seus discursos –, talvez na próxima entrevista alguém questione o presidente sobre os nomes dos animais marinhos nos desenhos animados.

É disso que precisamos.

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