sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Jaime Cimenti

Comédia noir de tirar o fôlego

O romance As sete vidas do amor marca a estreia da escritora italiana Carla D’Alessio no Brasil. Ela nasceu em Caserta, em 1978, e já com o primeiro conto, Formine, foi considerada uma revelação e incluída na prestigiada antologia Ragazze che dovresti conoscere, dedicada a jovens autores italianos. Carla tem trabalhado temas como a diferença entre gerações e a posição da mulher na sociedade. Em As sete vidas, a narrativa começa com uma confissão a sete dias da véspera do Natal.

Enquanto relata seus pecados e insatisfações ao padre Dom Luigi, Ada se depara com o olhar ambíguo de um persa preto aos pés do sacerdote. Os olhos verdes do felino têm algo de diabólico e, talvez por isso, a tentação seja forte demais: o padre ainda nem acabou de dar o velho sermão do tipo “o renascimento do Natal tem que ser uma coisa interior” quando a mulher, uma pacífica professora aposentada apaixonada por história da arte, sem pensar duas vezes, rouba-lhe o bicho. Os renascimentos, como se vê, nem sempre são marcados pela passagem da estrela de Belém.

Alguns têm necessidade de chegar a cantos mais escuros, despertar antigos fantasmas e precisam até de um gato roubado. Bemot, o gato quase falante, surrupiado da sacristia, está fadado a assistir, achando graça, ao desenrolar e enrolar das tramas da história. Nesse meio-tempo, os protagonistas - cada um a seu modo - passam por situações difíceis e se veem forçadas a mergulhar nas águas frias e profundas do passado para voltar à tona, finalmente livres, prontos para enfrentar um novo começo.

É bem o caso de Ada, que tenta gostar de si mesma, abandonando os anos de descuido e indiferença que, até então, marcaram a sua vida. É também o caso de Gilda, constantemente em busca de alguém que compense sua maternidade fracassada e de Nina, que tem o corpo de uma atleta e os medos de uma adolescente e, ainda, de Mara, advogada agressiva que, no entanto, tropeça no amor.

A fútil Bea e Zoja, a ucraniana que se mudou para a Itália tentando mudar de vida, completam a galeria desta comédia noir tipicamente italiana, uma história comovente e requintada que mostra que o amor, mesmo quando parece ter morrido, acaba revelando suas sete vidas.


O pano de fundo é a Nápoles alheia aos lugares-comuns e a narrativa, de tirar o fôlego, apresenta muitas coincidências, gerações em conflito, aspectos divertidos e até um certo amargor.  Bertrand Brasil, 378 páginas, tradução de Mario Fondelli, mdireto@record.com.br.

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