quarta-feira, 30 de outubro de 2013


30 de outubro de 2013 | N° 17599
PAULO SANT’ANA

Celular nos presídios

E assim vou vivendo a vida aos trambolhões, uma luz no caminho aqui, uma escuridão espessa ali, a vida de todos tem esses solavancos.

E eu vou indo, ora tímido, ora intrépido, igual se vive.

Quando gritei as injustiças, logo me fizeram calar.

Durante décadas, clamei contra o esmigalhamento dos doentes e contra a também escuridão espessa dos presídios, parece-me que ninguém me ouviu.

E sinto que vou continuar gritando. Igual se vive.

E presumo que tenho feito mais pelos outros do que por mim. E me surge uma dúvida esplêndida: quando faço pelos outros, não estou fazendo por mim? Seja qual for a resposta, igual se vive.

Sinto que sou o mais lido não pelo que escrevo, mas pela expectativa dos leitores do que eu possa vir a escrever.

O mais espetacular, por exemplo, é essa nova moda de os traficantes de drogas e assaltantes comandarem as ações criminosas de dentro dos presídios.

Diante disso, as polícias restam estupefatas: elas não têm de prender os chefes das quadrilhas. Afinal, eles já estão presos.

É incrível que, preso, o chefe da quadrilha tenha mais liberdade de ação do que se estivesse solto.

Por sinal, o Cláudio Brito tem uma sugestão: ele acha que ficaria muito melhor e menos complicado que, ao ser preso, seja entregue ao novel detento um celular novinho em folha. E eu afirmo que, se fosse assim, pelo menos se evitaria o delito de venda de celulares aos presos.

É incrível mas até hoje não se descobriu como os celulares entram nos presídios, já que os visitantes são rigorosamente revistados.

E eu fico cismando em que o fato de o crime ser chefiado de dentro dos presídios se deve a que a sociedade exatamente não conseguiu administrar os presos aqui de fora.

Se nós não mandamos nos presos, eles acabaram mandando em todos nós.

Disseram-me, e eu não duvido, que a Claro, a Vivo e a Tim já providenciaram para instalar dentro de todos os presídios lojas de atendimento para venda ou conserto de aparelhos celulares. Esse fato se deveu a que as autoridades fracassaram redondamente em interceptar as ligações de celulares no interior das cadeias.

Então liberou geral. Até para o comércio in loco.

Dizem-me que esses dias um diretor de presídio mandou um guarda ir buscar um preso na galeria. Queria interrogá-lo.

E o preso mandou dizer ao diretor, pelo guarda, que em 20 minutos estaria lá no seu gabinete, porque teria que responder a 15 ligações telefônicas que recém tinha recebido.

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