sexta-feira, 18 de outubro de 2013


18 de outubro de 2013 | N° 17587
PAULO SANT’ANA

Desfiladeiro das Termópilas

Imaginem como eu me sentia no meu camarote da Arena anteontem, quando terminou Grêmio 1 x 0 Corinthians, imaginem!

Em campo, Barcos fez o gol espetacular da vitória, e Dida, aos 92 minutos, prestem bem atenção que vou repetir, Dida fez uma defesa milagrosa que garantiu ao Grêmio os dois ou três pontos do triunfo.

Imaginem como eu me sentia, quando se lembra que fui eu quem indicou ambos, Dida e Barcos, ao presidente Fábio Koff para contratá-los, imaginem!

Evidentemente que eu não cabia em mim de contente. Às vezes, eu fico pasmado com a minha própria lucidez.

E agora vamos para um Gre-Nal depois de amanhã em Caxias do Sul, sabendo-se que o Internacional pretendia ou pretende destinar apenas 500 ingressos à torcida tricolor.

Só 500 ingressos? Pois então a nossa brava torcida, a maior do Rio Grande, será representada por 500 intrépidos gremistas. Eles reviverão um episódio histórico da antiga Grécia: os 500 bravos gremistas que representarão o Tricolor em Caxias serão protagonistas no novo Desfiladeiro das Termópilas caxiense, quando então se repetirá o que houve na antiga Grécia: 300 espartanos resistiram durante três dias ao exército persa, composto de 300 mil homens.

Evidentemente que foram vencidos, mas a História consagrou os espartanos como heróis incomparáveis.

Sendo assim, seremos apenas 500 gremistas em Caxias no Gre-Nal de depois de amanhã.

Mas estaremos representando milhões de gremistas que estarão com seus olhos voltados para nós.

O médico Luiz Lavinsky vem há meses secando os fungos de meus dois ouvidos.

A situação é a seguinte: não ouço nada, absolutamente nada com meu ouvido esquerdo e, com o ouvido direito, ouço apenas 20% do que ouve uma pessoa normal.

Vou ter, portanto, de usar próteses em ambos os ouvidos, tenho resistido a isso porque as próteses contêm certas inconveniências, como ouvir telefone celular, por exemplo.

Mas minha esperança de não ficar completamente surdo reside nessas próteses.

Quanto aos olhos, à visão, minha situação é visivelmente melhor: embora recorra aos óculos para ler, no entanto assisto satisfatoriamente a jogos de futebol, apesar da distância que existe entre o camarote que frequento na Arena e o campo de jogo.

Quanto ao olfato, posso ter até alguma deficiência, mas ela não me desqualifica nada como cheirador.

Não tenho qualquer problema no tato e, no que se refere ao paladar, a questão é a seguinte: perdi cerca de 30% do meu paladar nas 30 sessões de radioterapia a que me submeti contra o câncer na rinofaringe, mas saboreio ainda com rara delícia os camarões que me são servidos.

Esse é o panorama da minha velhice e dos equipamentos corporais que a vida ainda me reservou para resistir às intempéries da existência.


Está bom, não é?

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