quinta-feira, 26 de agosto de 2010



26 de agosto de 2010 | N° 16439
PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES (INTERINO)


Maluf vem aí

Nada é mais comovente na política do que o esforço de Paulo Maluf para ser reconhecido como honesto. Agora mesmo, Maluf foi pego pela Lei da Ficha Limpa. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, não pode concorrer à reeleição a deputado federal. Maluf vai recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral e, diz nossa intuição, vai ganhar.

O TRE não impediu a candidatura de Maluf por desvios de recursos de viadutos, mas porque comprou frangos superfaturados quando era prefeito de São Paulo. Maluf sempre gostou de compras superfaturadas. Fuscas para a Seleção de 70, pregos, cimento, merenda, abóbora, ovos, mandioca, tijolos.

Quase tudo que Maluf compra tinha rolo. Toda obra grandiosa resultava em desvios. Mais de R$ 300 milhões desaparecidos da construção de túneis e avenidas foram parar em contas de Maluf no Exterior. Maluf já esteve preso por alguns dias, foi solto e nunca recambiaram o dinheiro que levou para fora do país. Maluf flana porque tem advogado e tem voto.

Fui à página da Câmara na internet e busquei dados sobre Maluf. Há um link para projetos apresentados. Talvez eu não saiba procurar direito, mas não achei nada de relevante. Maluf é relator de um monte de projetos. Encontrei um pelo menos curioso. Ele relatou uma proposta do deputado Pompeo de Mattos que torna obrigatória a instalação de câmeras de filmagem nos shopping centers e similares.

Maluf relatou o projeto como integrante (acredite) da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O deputado deu, claro, parecer favorável. Afinal, as câmeras evitarão furtos em shoppings. Está escrito no relatório que o projeto é acolhido por sua “constitucionalidade, juridicidade e boa técnica legislativa”.

Não diz ali se o projeto já foi votado em plenário. Mas se sabe que os shoppings, com ou sem lei, estão cheios de câmeras. Imagine que a preocupação com o patrimônio e a segurança dos shoppings foi parar nas mãos de Maluf. E os humoristas, coitados, impedidos por lei, não têm o direito de nos fazer rir com uma façanha dessas.

A legislação que impede a ridicularização dos políticos com trucagens e montagens de imagens e áudios na TV é de 1997 e provocou agora uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral. O TSE foi duro na interpretação da lei.

Proibiu que alguém faça qualquer piada com políticos na TV – por exemplo, com essa história das câmeras nos shoppings. Eu queria ver o Casseta monitorando o Maluf olhando frangos de feltro numa loja de decoração.

O humorista Helio De La Peña, do Casseta, andou se queixando. Disse que a lei dá a entender que os humoristas vinham fazendo bullying com os pobres dos políticos.

Indefesos, foram protegidos por uma lei de 1997 que eles mesmos fizeram. Por isso, os programas de TV estão sem graça nesta eleição. Se o Maluf pode rir da gente e a gente não pode tirar sarro do Maluf, vamos rir de quem? Sorria, pelo menos, porque você está sendo filmado graças a uma lei relatada por Maluf, o guardião dos shoppings.

Correu tudo bem com a cirurgia do Sant’Ana, que volta logo com o rosto remoçado. Aguardem o retorno de Pablo. Agora, só falta a cirurgia geral no Grêmio. Aceita-se todo tipo de sangue.

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