Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
06 de agosto de 2010 | N° 16419
DAVID COIMBRA
Aqui não faz frio
Nós aqui da Zero Hora, nós somos um jornal eternamente perplexo com nosso próprio clima. A chuva que se derrama de baldes e flagela as populações ribeirinhas, o vento que arranca árvores pela raiz e as atira sobre Fuscas, a canícula que faz Batistas desfalecerem, qualquer intempérie vale manchete. Muito conveniente. Assim, sempre temos chamada de capa, mesmo que nada aconteça em todo o Rio Grande amado.
Mas, ao contrário do que eventuais críticos possam pensar, essa característica é um predicado do jornal. Demonstra que o veículo está em harmonia com seu público. Pois o gaúcho é um ser eternamente perplexo com o clima do seu próprio Estado. Mais até: o gaúcho orgulha-se dos supostos rigores do tempo no Rio Grande do Sul.
Alguns campeonatos atrás, o Maurício Saraiva, ele com sua alma carioca, foi cobrir um jogo em Caxias. Fazia frio. Em meio à partida, o serviço de som anunciou:
– Neste momento, zero grau!
As arquibancadas tremeram. A torcida comemorou a temperatura como se fosse um gol.
Só que tem o seguinte: não faz tanto frio assim no Rio Grande do Sul. Todos os países da Velha Europa e da América do Norte; o Japão e a China; a Rússia, que até é defendida pelo seu General Inverno; a Argentina; o Uruguai;
o Chile; todos esses e mais tantos outros são mais frios do que o Rio Grande do Sul. Nossas temperaturas raro baixam do zero e só de vez em quando se erguem acima dos 40 graus. Dois meses de inverno, dois meses de verão, oito meses de suavidade. Já passei mais calor em Viena, já passei mais frio na África. O clima, aqui, é ameno como um beijo na testa.
E ainda assim o gaúcho estufa o peito para falar das temperaturas baixas que fazem no seu Estado. Agora mesmo a neve rala que se precipitou na Serra fez estremecer o Rio Grande, mas não de frio: de brio. O que diz muito sobre a personalidade do gaúcho: o gaúcho se gosta, e se gosta tanto que se ufana do frio que sente. Ainda que não seja tão frio assim.
É bonito isso. E bom, que é bom gostar de si mesmo.
Vale manchete.
No Rio Grande do Sul não faz frio.
No Rio Grande do Sul SENTE-SE frio.
Como o inverno gaúcho dura poucas semanas, os construtores acham que não vale a pena instalar calefação nas casas, nos prédios, em lugar nenhum. Desta forma, o gaúcho suporta sentir frio por alguns dias em troca de alguns caraminguás.
Por economia. Então, chega o inverno, a temperatura cai um tantinho e as pessoas não têm para onde fugir. A saída é vestir-se como um mendigo: camiseta, camisa, blusão, casaco, outro casaco, manta, touca, tudo superposto.
O que é isso?
É a tal “estética do frio”, que dizem que existe por aqui. Estética do frio num lugar em que não faz frio, mas onde as pessoas sofrem com o frio. O Rio Grande amado é diferente de tudo mesmo.
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