Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
31 de agosto de 2010 | N° 16444
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Nova danação
De vez em quando aparece um artista capaz de fazer, em público, a purgação de dores privadas, de dores costumeiras e veladas – as da vida familiar, as da opressão cotidiana (como essa que agora se chama “bullying”), as de qualquer desajustamento, pequeno na vida individual ou grande na coletiva.
Há uma notável passagem das Confissões, de Nelson Rodrigues, em que ele comenta Glauber Rocha como um desses artistas danados, que com Terra em Transe deu “um vômito triunfal”, parecido com o de Euclides da Cunha em 1902.
Pois há uma novela atual assim, sobre a vida dos adolescentes de agora, esses que vivem aqui ou lá e sempre andam conectados com qualquer parte do mundo. Concretamente, trata-se do mundo das cidades médias interioranas, com bom nível de vida mas incapazes de oferecer alguns bens preciosos que as grandes cidades têm para dar, como o anonimato e a variedade aparentemente infinita de oferta cultural e erótica. A novela é de Ismael Caneppele, nascido e criado em Lajeado, agora em São Paulo; ela se chama, à maneira de uma senha para iniciados, Os Famosos e os Duendes da Morte (editora Iluminuras).
Novela ótima, mas danada: ali o que se conhece é um momento do processo de afirmação individual de um adolescente, em final de colégio, para quem o mundo diário é uma tortura a que ele resiste com escárnio e que sonha com uma utopia nada nítida, figurada num suposto show de Bob Dylan para poucos, pouquíssimos, que aconteceria em algum lugar não totalmente claro.
A danação do protagonista vem em primeira pessoa, numa linguagem que gosta de elipses, interrupções e enigmas, tudo muito eficiente e fluido, como na frase de abertura: “Naquela cidade cada um sonhava o segredo”.
O livro guarda a força e a fragilidade dos depoimentos desesperados mas mansos e mostra semelhanças com grandes casos de danação literária do país – Caio Fernando Abreu, com o mesmo sentimento abismal de atração pela metrópole, e Raduan Nassar, com quem Caneppele tem uma afinidade decisiva, o ambiente familiar como horizonte opressivo para a alma libertária em busca de algo que não sabe o que é, que nunca saberá, mas que é a força decisiva, a única que conta. O livro virou filme, a que não assisti ainda, e dá bem para ver que o Ismael vai longe.
“Levanta os ombros, caminha com o peito estufado, as gurias gostam assim”, me disse meu primo Lula, quando ele tinha uns 13 anos e eu uns 10. Nunca esqueci do conselho nem da atenção dele, uma figura terna, gregária, um professor que tinha orgulho das vitórias de seus alunos, que também eram suas. Faleceu semana passada o querido Luiz Carlos Liedtke.
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