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quarta-feira, 4 de agosto de 2010
04 de agosto de 2010
| N° 16417 - DIANA CORSO
Um violinista em Auschwitz
“Viemos das cinzas, agora dançamos.” Com essa frase o Sr. Kohn, um sobrevivente do Holocausto, agora com seus 89 anos, defendeu a iniciativa que está provocando polêmica no YouTube. Acompanhado de sua filha, uma artista plástica que idealizou o vídeo, e de três netos, Kohn dançou I Will Survive nas dependências dos campos de concentração de Auschwitz, Terezin e vários outros locais onde os judeus foram supliciados.
Muitas pessoas se sentiram incomodadas. Considerando a dança desrespeitosa com quem sofreu lá, pois eles teriam feito algo equivalente a dar uma gargalhada num funeral. A visita aos campos costuma produzir lágrimas e uma enorme desolação pessoal: vê-los é encarar o lobo do homem demasiado perto. Imagino que não deve ter sido fácil dançar lá, o que torna o gesto dessa família mais político, um ato significativo.
Os sobreviventes do Holocausto estão chegando ao final da vida e, em breve, teremos que lidar com uma memória sem a presença de seus protagonistas. O problema maior não é somente o esquecimento, que é o que costumamos fazer com as partes desagradáveis da nossa existência, mas também o tom com o qual no futuro vamos nos remeter a essa triste lembrança.
Essa família resolveu marcar esses templos da morte com uma celebração da vida. Não será esse gesto o mais enobrecedor para todos que passaram por lá? Ele diz: vocês não nos derrotaram, estamos aqui, vivos e comemorando o prazer de existir.
Enquanto judia, que teve parte da família amputada pelo Holocausto, sempre me pergunto se teria tido a coragem de sobreviver. Por vezes creio que teria sucumbido à tristeza, à revolta pela injustiça, tampouco sei se encontraria forças para lutar, acredito que poderia ter desistido de tudo.
Admiro cada uma daquelas pessoas que sobreviveram, são heróis da superação, muito além do que eu julgo que seria capaz. Uma dança de três gerações nos campos, ao som de uma música que diz “eu sobreviverei”, trata da persistência da memória, não da negação da história.
Kohn teve descendência, voltou e dançou. Aqueles passos foram de um homem que agora chega naturalmente ao final de sua vida e está orgulhoso de ter se erguido das cinzas. Freud dizia que “tolerar a vida continua a ser o maior dever de todos os seres vivos”. Se ela não fosse tão intolerável, não olharíamos a morte com tanto fascínio, nem se mataria tanto e tão fácil. Sobreviver é a maior resposta ao Holocausto, mesmo que ainda seja difícil.
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