terça-feira, 16 de janeiro de 2024


16 DE JANEIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

FALTA POLÍTICA DE PREVENÇÃO

As mudanças climáticas exigem novas visões e novas estratégias dos administradores públicos e da população. Tempestades destrutivas e cada vez mais frequentes vêm provocando danos irreparáveis nas grandes cidades, muitas vezes com vítimas fatais, como ocorre atualmente em várias partes do Brasil. O ponto crítico do último fim de semana foi o Rio de Janeiro, que já contabiliza mais de uma dezena de mortes por conta de inundações, desabamentos e acidentes com a rede elétrica.

Nada disso é fatalidade. As causas do desequilíbrio ambiental são bem conhecidas: uso excessivo de combustíveis fósseis, desmatamento, geração e consumo de energia em grande escala, aquecimento da temperatura, infraestrutura inadequada das grandes concentrações urbanas, especialmente construções irregulares em áreas de risco. Sempre que o desastre se materializa, o poder público e a população se empenham em reduzir os prejuízos, quase sempre potencializados pela falta de uma política focada na prevenção. Se estamos vivendo tempos de turbulências climáticas, precisamos estar preparados para nos anteciparmos a elas - e não apenas para consertar os estragos.

De parte das administrações públicas, já não basta reforçar e orientar os servidores encarregados da defesa civil para socorrer a população nos momentos de crise. A prevenção tem que começar pela adaptação das aglomerações urbanas à geografia da região e pela atenção às comunidades vulneráveis, com investimentos em infraestrutura protetiva, incluindo habitações sólidas, livres dos riscos de desabamentos e com redes de escoamento para água e esgoto. Também compete ao poder público e às empresas concessionárias de serviços de eletricidade revisar e reforçar redes físicas de transmissão de energia para que resistam a ventos e tempestades.

Outro ponto essencial é a comunicação adequada. Com a evolução das técnicas e dos equipamentos de previsão meteorológica, atualmente todo mundo sabe com antecedência quais as áreas do globo terrestre estarão sujeitas a intempéries - mas nem sempre a população dessas localidades é suficientemente prevenida para não se expor a riscos. Tanto que as vítimas fatais, em sua maioria, são pessoas que estavam em veículos surpreendidos por enxurradas, transitando por lugares perigosos ou mesmo em residências vulneráveis a cheias e desabamentos.

Já está comprovado que alertas burocráticos são insuficientes. A prevenção eficiente, em tempos de alterações climáticas severas, precisa incluir o bloqueio preventivo de ruas, o desestímulo à circulação de veículos, a proteção antecipada de aglomerações urbanas mais frágeis e a vigilância sobre a população até que o perigo diminua.

Enquanto os compromissos com a preservação ambiental assumidos por governantes de todo o mundo nas conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas não produzem efeitos globais, os administradores públicos e as populações de cidades de todos os portes devem se engajar numa guerra preventiva contra os danos localizados - com as armas da informação, da vigilância e da preservação do maior de todos os patrimônios, que é a vida humana.

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