segunda-feira, 29 de agosto de 2016



29 de agosto de 2016 | N° 18620 
CÍNTIA MOSCOVICH

PORTO ALEGRE: AME-A OU DEIXE-A

Quando parecia que o assunto já estava esgotado, a discussão sobre nossa identidade voltou à tona. Primeiro foi o artigo do publicitário Alfredo Fedrizzi que dizia que muita gente tem saído de Porto Alegre para buscar futuro em outras capitais. Depois, no encerramento das Olimpíadas, parecia que o Rio Grande do Sul nem existia no painel do Brasil que se mostrou.

O resumo dos debates é bem conhecido: Porto Alegre continua sendo uma cidade alegremente reacionária, com gente confortavelmente semiletrada, lideranças comoventemente simplórias, todo mundo achando equivocadamente que tem padrão de vida europeu – e nenhuma dessas conclusões, repita-se, é nova. Gente que conseguiu levantar a cabeça acima do padrão médio diz que os porto-alegrenses são mesmo como um balde de caranguejos: a pessoa está chegando à excelência, na beirinha do balde, quando a maioria, não suportando a conquista, também quer, tenta subir, empurra, puxa, até que toda a caranguejada vem balde abaixo. Esse ressentimento com o sucesso alheio também tem impedido, por mais de dois séculos, que tenhamos uma identidade clara, uma “cara” (daí, talvez, por que tenham nos “esquecido” no encerramento olímpico).

Claro, Porto Alegre tem méritos: aqui nasceu o Em Cena, o Fronteiras do Pensamento, a Oficina de Criação Literária da PUCRS, a Feira do Livro – e peço perdão às belas instituições que não nomeio. Mas como, caramba, o Multipalco do Theatro São Pedro ainda não foi concluído? Por que a sede da Ospa não progride? Como assim, a Fundação Iberê Camargo demitiu gente e vai abrir somente às sextas e aos sábados?

Para o resto do Brasil, Porto Alegre é meio atrasadinha e démodé – somos como um outlet, que vive de coleções passadas. Em verdade, nunca ultrapassamos o status de província e sempre ficamos devendo ao resto do país: a corte portuguesa se havia instalado no Rio – até um Jardim Botânico foi criado – e nós estávamos aqui a degolar uns aos outros. Bota atraso nisso.

O melhor seria parar com idealizações e lutar para que a cidade, que é nossa casa, ofereça melhores condições de vida. Por enquanto, Porto Alegre não é demais.

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