terça-feira, 3 de novembro de 2015



03 de novembro de 2015 | N° 18344 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

O ENEM, VESTIBULAR GERAL


Aqui na Zero e noutros veículos, tenho escrito coisas sobre o Enem desde 2009. E tudo só vai confirmando o que dava para entrever desde então. Mesmo com a patética cortina de fumaça que alguns colegas punham no ar.

Qual cortina de fumaça? Alguns de nós queríamos discutir vários aspectos do Enem – por exemplo a virtual elitização em escala nacional que o Exame traria, assim como a problemática qualidade e a filosofia de algumas provas, entre as quais a de literatura, que praticamente libera o candidato de ler qualquer livro por inteiro, na medida em que só faz perguntas sobre fragmentos citados na própria prova, e trata a literatura como uma modalidade de texto como outra qualquer, bula de remédio, placa de trânsito ou reportagem.

(São todos eles textos de grande valia na vida, mas não podem ser equiparados ao texto literário, que sobrevive aos tempos e mesmo à ideologia de seu autor justamente pela múltipla significação que sabe trazer em si.)

Contra nossa vontade de discutir, esses colegas nos acusavam de ser elitistas, de querer manter o vestibular tal como existia, de defender um cânone conservador. Eles, ao contrário – na opinião deles –, eram os revolucionários, que iam acabar com o mercado dos cursinhos e iam botar, via Enem, os pobres na universidade.

Ora, o que fez a relativa democratização do acesso não foi o Enem, mas as cotas e o aumento de vagas, ao lado do financiamento farto. No Enem, como se demonstra agora com sólidos e incontestáveis dados – veja lá os artigos de Simon Schwartzman –, o que realmente aprova é... o grau de escolaridade dos pais e a condição social dos candidatos. Bidu.

Foi patético ver as reportagens sobre o Enem, esses dias. As mesmíssimas pautas cumpridas sobre o vestibular – as aulas na madrugada, o sobre-esforço dos jovens, os atrasados etc. – agora se fazem sobre o Enem, apenas que em escala nacional. Enquanto isso, candidatos das regiões mais ricas do país e filhos dos pais com mais tempo de estudo ocupam as principais vagas federais em todo o país, num fenômeno de concentração creio que sem paralelo anterior.

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