RUTH
DE AQUINO
05/12/2014
20h54
O nojo
O
troféu da roubalheira deveria ser nosso. Pelo gigantismo das empreiteiras, das
obras e do país
É
injusta a posição do Brasil no ranking mundial de corrupção da Transparência
Internacional, divulgado na semana passada. Vamos protestar. O Brasil está em
69o lugar numa lista de 175 países considerados mais limpos, ou livres de
corrupção. Tem alguma coisa errada aí. A avaliação foi feita em agosto, bem
entendido. Ninguém do júri viu ou leu os depoimentos da Operação Lava Jato.
Se
tudo for verdade, devemos ser campeões do mundo em volume de dinheiro roubado
dos cofres públicos. Não tem para mais ninguém. O Brasil deve ser mais corrupto
que os lanterninhas desse estudo, Somália, Coreia do Norte, Sudão e
Afeganistão. O ministro do Superior Tribunal de Justiça Felix Fischer,
presidente do STJ até setembro, concorda: “Acho que nenhum outro país viveu
tamanha roubalheira”.
Esse
troféu só pode ser nosso, pelo gigantismo do país, pelo poder das empreiteiras
e pelos danos infligidos a 750 grandes obras públicas – segundo a planilha do
doleiro Alberto Youssef. Essa planilha, “perturbadora” nas palavras do juiz
Sergio Moro, foi apreendida no dia 15 de março! Imagine a ansiedade do PT para
ganhar no primeiro turno. Só depois da eleição, descobrimos o significado da
sigla PAC: Programa de Aceleração da Corrupção. O “C”, de crescimento, está
desmoralizado pelo PIB abaixo de 1% neste ano.
Ninguém
no mundo pode disputar o título de mais corrupto com o Brasil, caso as
investigações comprovem a amplitude da “suruba” – mais conhecida como
“corrupção ativa e passiva” de empresários, governo federal, governos
estaduais, e os “agentes” públicos e privados, financeiros e políticos. Desviando
bilhões. O troféu deve ser nosso, se ficar comprovada a propina oficial “doada”
ao partido que governa o país há 12 anos, o PT – que acabou de ser reeleito,
legitimamente, por pouco mais da metade do eleitorado.
É
inoportuno e negativo o coro de “Fora, Dilma”, ou a torcida por impeachment. A
oposição tucana não deve se rebaixar aos métodos da oposição raivosa petista.
Em 1998, comandada por Lula, ela gritava “Fora, FHC” em manifestações na
Esplanada. Lula, brandindo a bandeira da ética, chamava os parlamentares de
“300 picaretas”. Quem acusava o “golpismo” contra a democracia? Dilma hoje
interpreta as críticas como atentado a seu governo. Ministros ladeiam a
presidente “estarrecida”, como se fossem guarda-costas dela e do tesoureiro
sumido do PT.
Os
tucanos também têm escândalos para chamar de seus. Um deles, o cartel do metrô
e dos trens, em governos estaduais do PSDB de 1998 a 2008, criou até ferrugem. Os
valores são baixos se comparados aos estratosféricos da Lava Jato. Mas o
roteiro imoral é o mesmo, com ex-servidores, executivos, lobistas e doleiros
entre os 33 indiciados. O mais correto agora é não arquivar nada e punir os
culpados. O partido tem de pedir perdão.
Devemos
ser campeões mundiais da roubalheira e da arrogância, porque temos até notas fiscais
de propinas pagas na maior estatal, a Petrobras. Que outro país lida com a
suspeita de alta corrupção de 35 parlamentares, cujos nomes não foram
divulgados nem pelo juiz da Lava Jato, nem pelo procurador-geral da República –
e hoje disputam sombras sob as togas do Supremo Tribunal Federal? Cadê os nomes
dos 35 parlamentares citados pelo ex-diretor da Petrobras e atual delator
estrela Paulo Roberto Costa?
“O
que ocorre na Petrobras ocorre no país inteiro: portos, aeroportos,
hidrelétricas, ferrovias e rodovias. É só pesquisar”, disse Costa. Ele é o
único personagem, até agora, a se dizer “profundamente arrependido” e “enojado”
com o que ocorria. Os outros negam ou se fazem de tontos. De uma forma ou de
outra, Costa comove. Porque só pode ter falado a verdade. E ela dói em cada
brasileiro honesto.
Sempre
tivemos o pressentimento de que a corrupção, o suborno e a propina estavam
entranhados no modus vivendi do Brasil e, especialmente, de Brasília. Nunca
antes na história do país olhamos na cara da serpente, nem conhecíamos a
potência de seu veneno.
O
veneno apodrece órgãos maiores e menores. Na última terça-feira, o
superintendente do Incra no Maranhão, Antonio César Carneiro de Souza, foi
preso por cobrar R$ 2,5 milhões por mês de propina a madeireiras ilegais para
liberar devastação de terras indígenas. Assumiu o cargo em outubro por
indicação do PT. E foi secretário de Meio Ambiente do Maranhão, nomeado pela
ex-governadora Roseana Sarney. Algum espanto?
Novo
governo, velhas ideias, novas metas maquiadas, velhas manobras, novos juros,
velho “toma lá dá cá”. A sujeira que sai dos bueiros do Poder e as pantomimas
no Congresso provocam nojo. Ainda não dá para voltar a ser uma indignada
otimista. Falta o desfecho.
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