11
de dezembro de 2013 | N° 17641
ARTIGOS
- Marco Antônio Bomfoco*
O Enem e a escola
pública
O
Enem não é uma novidade no horizonte da avaliação educacional. O Ensino Médio
vem sendo avaliado por meio desse exame desde 1998. São, portanto, 15 anos de
avaliações. Os resultados do Enem obrigam-nos a refletir sobre a escola que
temos e sobre a escola que queremos.
A
constatação fundamental é que a classificação das escolas gaúchas não apresenta
evolução significativa desde a criação do Enem. Ao mesmo tempo, os resultados
do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em
inglês), de 2012, confirmam a quase estagnação da educação básica brasileira.
O
Brasil ficou classificado em 58º num total de 65 países avaliados no Pisa,
permanecendo entre os últimos lugares desde a criação do exame em 2000. Países
como México e Grécia conseguiram avanços superiores aos do Brasil e em menos
tempo.
O
Ensino Fundamental segue fraco, e o Ensino Médio, descaracterizado ao longo dos
anos, é ruim. Mas já não tivemos uma escola pública melhor? Estamos distantes
da formação proporcionada pelo antigo ginásio. Até 1971, para ter acesso a esse
nível de ensino, os estudantes precisavam ser aprovados no difícil exame de
admissão. Era o sonho da classe média ver os filhos cursando o ginásio em uma
escola pública.
Hoje,
temos acesso à educação assegurado a mais de 90% das crianças e jovens, que
recebem livros, material escolar e alimentação, mas a grande verdade é que
poucos estudam, poucos querem se esforçar. Vivenciamos a moda de que não é
necessário esforçar-se para ser aprovado.
Para
completar o quadro, os professores também não são mais preparados nem
valorizados como no passado. Todavia, é interessante observar que, mesmo após
décadas de desvalorização da escola pública e do professor, ainda sobrevive o
discurso de que o professor é uma espécie de herói que é capaz de resolver
sozinho todos os problemas da educação.
Os
resultados do Enem nos dizem que algumas escolas estão andando, mas não estão
andando juntas. No caso das escolas públicas comuns (não militares ou
técnicas), o problema está no sistema que não permite a experimentação. Algo
igualmente muito difícil para ser proposto pelos professores, já que estes
estão presos a uma carga horária que não lhes permite planejar e inovar.
Enfim,
é preciso tomar cuidado com outro aspecto da questão que não é muito debatido
entre nós. Trata-se do crescimento da “mania dos exames”: há escolas (e, entre
essas, algumas que alcançaram destaque no Enem) que estão substituindo o ensino
ou a instrução pela preparação para os testes. Importantes no início, quando
não tínhamos uma visão geral do estado da educação, não parece razoável a esta
altura acreditar que superenfatizar a importância dos testes bastará para que
alcancemos os níveis educacionais das nações mais desenvolvidas.
*PROFESSOR,
DOUTOR EM LETRAS
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