10 de dezembro de 2013 | N° 17640
LUIZ PAULO VASCONCELLOS
Conjuntura
e acaso
Semana passada, foi publicada aqui em ZH a notícia do
falecimento de Fernando Mostardeiro Bonow. Fui colega e amigo de sua irmã,
Andréa Bonow, na Secretaria da Cultura de Porto Alegre, entre 1996 e 2000, mas
praticamente nada sei sobre a vida do “Gordo” Bonow. Uma única vez encontrei-me
com ele num restaurante – no Marcu’s, se não me engano –, eu jantava com minha
filha, e ele com a família.
Fui cumprimentar Andréa e ela então me “apresentou” a
Fernando, já que a passagem do tempo impedia que eu o reconhecesse. Mas a vida
é assim, gosta de brincar com as coincidências, com as conjunturas, com os
acasos. Conclusão: o senhor que não reconheci no restaurante havia sido meu
aluno e, mais importante de tudo, o responsável pelo gol inicial de que
resultou toda a minha vida profissional.
Resumo da história: em 1968, Gerd Bornheim, então diretor do
Centro de Arte Dramática da UFRGS – pediu a um aluno que pretendia viajar ao
Rio de Janeiro em férias, que procurasse Yan Michalsky, crítico do Jornal do
Brasil, e solicitasse a indicação de alguém que pudesse vir a Porto Alegre
dirigir um espetáculo.
Yan indicou a mim, que cursava o último ano do bacharelado
em Direção Teatral no Conservatório Nacional de Teatro. A direção do curso
resolveu considerar o meu período em Porto Alegre como um estágio profissional,
e assim eu pude vir. E dirigi, em 1969, A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt
Brecht, o espetáculo que se tornou símbolo do processo de evolução do teatro no
Rio Grande do Sul. O nome daquele aluno que foi ao Rio? Fernando Mostardeiro
Bonow.
Fernando fez parte do elenco da Ópera – que eu saiba foi a
única coisa que ele fez em teatro. Não era nenhum grande talento, mas era
disciplinado, competente e versátil. E muito querido por seus colegas.
O que se seguiu foi o convite que recebi do Gerd para voltar
no ano seguinte, já graduado, para dar aulas. Uau! Recém-formado e convidado
para lecionar numa das três maiores universidades do país. Mas o mundo dá
voltas. Pouco depois, o Gerd foi cassado pela ditadura militar.
Fazer o quê? Aceitar ou recusar o convite? E foi novamente o
Gerd quem solucionou a questão: se você não vier – escreveu-me ele –, eles vão
acabar com o curso. Peguei o avião e vim. E enfrentei o maior desafio
profissional de toda a vida: preservar, ampliar, qualificar e transformar o DAD
numa das melhores escolas de teatro do Brasil. O culpado disso tudo? Fernando
Mostardeiro Bonow!
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