10 de dezembro de 2013 | N° 17640
DAVID COIMBRA
Você
quer ser Van Gogh?
Existe sorte? Van Gogh, por exemplo, teve sorte ou azar na
vida?
Van Gogh viveu 37 anos infelizes. Foi um frustrado, um
fracassado, um solitário, muito provavelmente um chato. Quase ninguém gostava
de Van Gogh. Mas, depois de morto, ele se transformou num dos maiores
personagens da história da Humanidade, um artista imortal.
Você gostaria de ter sido Van Gogh, em vez de ser você?
Você, digamos que você seja uma das bilhões de pessoas
comuns que vivem ou já viveram debaixo do sol. Você teve e tem seus sucessos e
suas desilusões. Você se orgulha de algumas coisas, de outras se envergonha.
Mas digamos que seu saldo seja positivo. Que você seja uma pessoa feliz.
Certo.
Você é feliz, você sorri nas fotos do Facebook, mas você
nunca será um Van Gogh. A sua vida não fará a menor diferença na história do
planeta. Passados alguns anos depois da sua morte, nem lembrança você será
mais. As futuras gerações o esquecerão. A posteridade irá ignorá-lo como a um
rato de praça.
Então? Valerá a pena a sua felicidade? Ou você preferia
viver 37 anos torturados e ser um Van Gogh?
Churchill!
Churchill sofria de depressão. Chamava-a de o seu “cão negro”. Churchill
cometeu muitos erros e falhou em boa parte da vida. Mas redimiu-se na II Guerra
Mundial e ajudou a salvar o mundo. Você enfrentaria o cão negro de Churchill em
troca de ser o salvador do mundo? Ou você fica com a sua vida de assalariado,
contente com as pequenas espertices do seu filho, satisfeito com uma conquista
amorosa inusitada e com as férias nas franjas do Atlântico?
O que é, realmente, ter sorte na vida?
O sortudo e o azarado
O Grêmio, diz-se que o Grêmio terminou o ano como
vice-campeão porque teve sorte. O Inter, diz-se que o Inter terminou o ano a um
degrau do rebaixamento porque teve azar.
D’Alessandro, o grande líder do Inter, o centro técnico do time,
o chefe do vestiário, D’Alessandro experimentou o melhor ano da sua carreira.
Damião até outro dia era o centroavante da Seleção.
Forlán foi o melhor da última Copa.
Alex chegou como um quase craque.
Otavinho e João Afonso são revelações luzidias.
Índio é um dos maiores zagueiros da história do Inter.
Juan era homem de confiança de Dunga na Copa.
Clemer era invencível nas categorias de base.
Mas o Inter empatou com o time sub-20 da Ponte Preta, saiu
de campo vaiado e termina o ano cabisbaixo.
Já no Grêmio, Renato não treina, não entende de tática e é
arrogante. O clube está endividado.
A OAS é quem manda na Arena. O craque do time tem 39 anos.
As revelações vieram da base do Juventude. O ataque não marca gols.
E o meio-campo não cria nada.
Mas o time está na Libertadores em 2014.
Por sorte? O Grêmio tem sorte e o Inter tem azar? É isso? Ou
o Inter teve sorte por não ter caído e o Grêmio teve azar porque não foi
campeão? Quem sairá melhor para a posteridade? Essa resposta só quem tem é a
posteridade.
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