09
de dezembro de 2013 | N° 17639
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Personalidade excepcional
Sem
exagero, pode-se dizer que, com a morte de Nelson Mandela, desaparece uma
grande figura humana; independente da cor da sua pele e da posição por ele
assumida ao enfrentar o enorme poder estatal que o levou à prisão por 27 anos,
era um homem. Era um homem que, ao cabo desse longo tempo de encarceramento,
teve a grandeza e a sabedoria de, assumindo a liderança da maioria negra da África
do Sul, selar a mútua convivência que não existia entre brancos e pretos. Era
uma sociedade em que suas partes não conviviam porque, dada à segregação
imposta, não poderia haver convivência.
Em
vez de fel ao sair da prisão, ele trazia o mel no coração e, desse modo, ao
retomar a liberdade, veio a realizar o milagre da junção de duas parcelas
longamente desavindas, em recíproca aversão decorrente da histórica animosidade
senão repugnância. Graças à ação daquele homem que passou no cárcere quase o
período de uma geração, o negro apesar de negro, e o branco, a despeito de ser
branco, deixaram de ser incompatíveis e como seres humanos passaram a conviver.
Também aqui suponho não exagerar ao dizer que, sem ele, o fenômeno não teria se
consumado e tornado indivorciável. E o que é mais: o inacreditável se operou em
poucos sóis.
Foi
presidente da República e continuava a ser a personalidade mais notável de sua
pátria. Em vida, colheu as maiores homenagens, principalmente internacionais, o
Prêmio Nobel da Paz entre elas, e ainda em vida atingiu a imortalidade. Morreu
um imortal, quer dizer, o arcabouço material cessou de funcionar, mas a
imortalidade transcende ao tempo.
Aqui,
na vulgaridade dos dias sem brilho, vão acontecendo coisas estranhas;
condenados e condenadas pelo mais alto tribunal da nação foram 25 e 12
absolvidos; em sua maioria ou não, vêm se distinguindo pelas críticas à corte
que os julgou e ainda aos integrantes dela. Um deles, talvez o de mais alta
posição político-social em razão da prisão em regime semiaberto que lhe
ensejaria trabalhar durante o dia e recolher-se à prisão durante a noite,
conseguiu emprego no Hotel Saint Peter com remuneração de R$ 20 mil mensais. O
ex-ministro ora condenado e já empregado no mencionado hotel, sem demora
desligou-se do emprego já assegurado.
Vale
acentuar que, segundo divulgado, o hotel pertence à empresa panamenha Truston
International, cujo presidente seria o auxiliar de escritório José Eugênio Silva
Ritter que residiria em bairro pobre da cidade do Panamá; teria ele declarado
que nem se lembra da empresa da qual é presidente, tantas são elas, mais de
mil, e das quais é sócio. Os fatos divulgados por sua singularidade despertaram
suspeitas, até porque não se escondem os donos da empresa gratuita e
imotivadamente.
Não
quero extrair ilações dos estranhos dados da empresa proprietária do Hotel
Saint Peter, mas elas surpreendem por sua invulgaridade. Nessa altura, torna-se
evidente que o caso carece de esclarecimentos que podem ser necessários para a
inteira compreensão da extraordinária ocorrência.
Sem
exagero, com a morte de Nelson Mandela, desaparece uma grande figura humana
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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