Reflexões finais na confeitaria de um shopping
DIVULGAÇÃO/JC
O romance apresenta narrativa densa, melancólica, mas com altos teores de poesia. Sentado à mesa de uma confeitaria num shopping, o narrador, um escritor à beira dos 80 anos, vê a vida passar e espera a morte, enquanto relembra acontecimentos de sua infância. Lembra principalmente da mãe suicida, que se foi em silêncio, sem qualquer bilhete de despedida.
Ela era bêbada, louca e artista fracassada, mas ele mantinha uma forte ligação com ela. O protagonista lembra da primeira ceia de Natal após a morte da mãe. O velho decrépito conversa telepaticamente com outros frequentadores do shopping e tenta justificar sua vida com um livro que, acredita, jamais será publicado.
Ele escreve para fugir da morte, fala de todo mundo e ao mesmo tempo de ninguém. Evandro Affonso Ferreira, o autor, durante um ano, passou quatro horas por dia numa doceria de um shopping de São Paulo. Não entrevistou ninguém, apenas observou o comportamento dos que passavam por ali e ficou imaginando histórias.
Escreveu muitas páginas a mão, ali mesmo, no shopping. Na orelha, Juliano Garcia Pessanha escreveu que Evandro não é um escritor de segunda ordem, um manipulador de contas de vidro, alguém que escreve a partir de outros livros.
Explica que ele é um habitante da exclusão e pertencente à família dos tragados pelo impossível. Juliano refere que este novo trabalho de Evandro é uma viragem no trabalho do autor, que ele tornou-se o outro e a dicção emergiu, não para falar sobre a melancolia, mas para presentificá-la em sua narrativa. Juliano escreveu que Evandro conhece a abissalidade impensável do não e do seu poder de sucção gigantesco.
Em meio às lembranças da narrativa, o protagonista vai apresentando reflexões filosóficas, frases e ideias de filósofos. Como se vê, não se trata apenas de mais um romance desses com começo, meio e fim, sujeito, verbo e predicado e linguagem fácil.
Evandro nos oferece, tipo assim, a polpa viva dos dias e das pessoas, nos oferece literatura viva, dessas que não gostam de rótulos e trivialidades. Não é pouca coisa. Record, 128 páginas, mdireto@record.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário