Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
04 de agosto de 2009
N° 16052 - LUÍS AUGUSTO FISCHER
De que se trata?
A Kátia Suman gosta muito de um poema do português Gonçalo Tavares, talentoso escritor de nosso tempo. Tanto gosta que o leu de novo, terça passada, na comemoração dos 10 anos do Sarau Elétrico. O poema começa evocando uma frase bíblica que diz ser inútil ensinar o imbecil, porque este, mesmo bem instruído, sempre torna a perguntar “De que se trata?”,
sem entender nada, nunca. Depois, Gonçalo Tavares dá um giro espetacular no curso de seu texto e diz que, no fim das contas, mesmo os mais sábios entre os seres humanos fazem exatamente o mesmo: no fim da vida, no ápice de sua sabedoria, ainda assim perguntam “De que se trata?”. Porque a vida não tem sentido claro, ou não faz mesmo sentido.
Não sendo um imbecil nem um sábio, me sinto preso nessa pergunta mais uma vez, agora pela morte do meu querido primo Nilton, falecido faz 10 dias. Era professor da faculdade de Educação da UFRGS, era militante social discreto mas efetivo (atuando em uma cooperativa de reciclagem, junto com Antônio Cechin),
era um colorado fanático, era pai do Gu e da Ina, era namorado da Beth. Era meu primo mais velho (primogênito, valha o trocadilho) e, por uma graciosa volta do destino – “De que se trata?” –, era meu vizinho de prédio. Morreu dormindo, de um fulminante ataque cardíaco. Estava num momento muito feliz de sua vida.
O Nilton sabia fazer sempre essa pergunta, e esse é o melhor elogio que posso fazer a ele. Simpático, bom leitor, querido por todo mundo que presta, ele mantinha um sereno modo de olhar para o mundo com aquela desconfiança que é ao mesmo tempo ingenuidade e sabedoria – “De que se trata?”,
ele queria saber, com o olho aceso e um sorriso de canto de boca. Foi secretário municipal de Educação, aqui em Porto Alegre, no segundo governo petista;
e não resistiu – não quis resistir, na verdade – quando foi atropelado por militantes de escassa inteligência, fraca sensibilidade e muito apetite de poder, a pior combinação possível. Gente que não formula a pergunta ingênua-sábia, porque acha que sabe tudo.
O Nilton tinha em vista os aspectos mais importantes da vida e por isso sabia o quanto vale a dúvida. Gostava de coisas artesanais, da singeleza nas relações, da alegria simples.
Vibrou com seu novo apartamento porque em suas sacadas podia ver a chuva por assim dizer de corpo inteiro, e molhar-se nela, se quisesse. E fez isso, numa noite de seu último verão. Morreu cedo demais, aos 62 anos, e vai fazer falta por muito tempo.
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