Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
04 de agosto de 2009
N° 16052 - PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES - INTERINO
Cuspidores de fogo
Um ano depois da Copa de 70, Pelé veio jogar em Porto Alegre. Metade dos colorados foi ao Beira-Rio torcer pelo time e a outra metade – com alguns gremistas infiltrados – queria ver Pelé. Viram Sérgio Galocha, o craque do jogo. Pelé não jogou nada.
Mas não é de futebol que vai se falar agora, e sim das frustrações cotidianas com expectativas logradas. Claro que ninguém foi ao jogo porque aquela seria a noite de Sérgio Galocha. O que interessava e não apareceu no Beira-Rio era a magia de Pelé.
E quem, entre os que começam a leitura de Zero Hora pela penúltima página, quer ser surpreendido por um Galocha de interino no espaço do Sant’Ana?
Estou aqui porque só o acaso faz com que um bom jogador – e Galocha era muito bom – tenha sua noite de Rei, e só essas eventualidades podem oferecer alguma chance para que também os cronistas avulsos da interinidade sejam notados.
O leitor deve ser compreensivo com os interinos. O interino é o cuspidor de fogo do circo. Qualquer um cospe fogo e mantém o público entretido enquanto os palhaços montam a jaula.
Mas só o domador enfia a cabeça na boca do leão. Como o Sant’Ana vai se afastar por alguns dias, ficarei aqui cuspindo fogo e embromando. Se me sobrar algum atrevimento, posso até puxar a cola do leão. Não esperem mais.
Domingo, estive com Sant’Ana, na Igreja São Jorge, do Partenon, e aproveitei para me aconselhar. Ele me disse que devo me esforçar para não ser previsível, mas não a ponto de entrar na jaula. Não disse, mas se sabe que o público não gosta de usurpadores de espaços alheios. Serei um interino respeitoso e reverente, como foram os que estiveram domingo na igreja.
Sant’Ana criou-se na Chácara das Bananeiras, ali perto. É o território da infância e da adolescência do cronista. Na missa da manhã, o bispo Remídio Bohn e o pároco Paulo Dalla Rosa entregaram a Sant’Ana uma placa como homenagem ao primeiro coroinha da paróquia da igreja. Foi em 1951, Sant’Ana tinha 12 anos. O padre dizia em latim:
– Dominus vobiscum (O Senhor esteja convosco). O coroinha respondia:– Et cum spiritu tuo (E com o vosso espírito).
O padre e o ajudante ficavam de costas para o público. Ajoelhar-se era uma aflição para o guri:
– Temia que vissem meus sapatos furados.
Ajudava o padre, vendia jornais na redondeza e ficava esperando que três coqueiros da frente da casa dessem coco. Nunca deram. Foi aplaudido de pé quando falou da religiosidade e relembrou seu tempo de Partenon.
Claro que chorou muito e fez chorar. Depois, comeu galeto com mais de 300 pessoas no salão paroquial, ao lado da mulher, Inajara, da sogra, Miguela, dos irmãos José Carlos e Rosinha e da sobrinha Tatiane.
Foi abraçado, beijado, fotografado, paparicado. Foi bonito ver se lambuzando nas paparicagens. Estava tão feliz, que até subiu ao palco e cantou com Inajara o hino do Internacional. Inajara é filha do autor do hino, Nelson Silva. Sant’Ana provocou os colorados:
– Eu ganho direito autoral do hino do Inter.
Fez seu caminho de Santiago. Foi à paróquia rezar e se fortalecer com gente, santos e anjos que conhece, antes de se retirar para uma revisão geral na saúde. Fico a sua espera, porque na volta temos que levar adiante algumas deliberações.
Combinamos que este ano deixaremos de fumar no mesmo dia – só falta escolher o dia. Depois iremos a Las Vegas. E depois nos deixaremos levar pelo que estiver a nossa espera.
Só se descobre que um ano será bom mesmo no segundo semestre. Que assim seja. Com licença, vou apresentar meu número de cuspidor de fogo, antes que digam que desse coqueiro não sai coco.
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