terça-feira, 14 de abril de 2009



ADRIANO, O HOMEM COMUM

Não sei qual é a verdadeira história do jogador Adriano. Mas ela me emociona. Não fosse triste, eu diria que é uma bela história. Digo isso do meu jeito. Eu nunca me emociono com esses casos exemplares de celebridades que vão ao 'fundo do poço' e retornam.

Essas superações tão ao gosto da mídia me entediam. Não acredito que precisemos desse tipo de modelo para andar bem na vida. É conversa fiada. Acho a história de Ronaldo Fenômeno, por exemplo, banal e enfadonha.

Nada mais do que uma situação comum dentro de uma profissão: lesões importantes, tratamentos com os melhores médicos do mundo, um pouco de força de vontade, estimulada por salários milionários e a saudade dos holofotes, e a retomada das atividades.

Superação e fundo de poço são outra coisa. Não se resumem a pisotear críticas apressadas ou a invalidar previsões sem fundamento. A história de Adriano é diferente. Não tem lesão grave nem qualquer explicação padronizada.

De repente, o rapaz perdeu a vontade de jogar. As especulações dão conta de alcoolismo, uso de drogas ou uma frustração amorosa. O jogador nega tudo isso.

É patético ouvir na televisão, em horário nobre, manchetes como esta: 'O imperador Adriano vai parar por algum tempo'. Normal seria assim: 'O jogador Adriano, conhecido como o imperador, vai parar por algum tempo'. Não estará Adriano saturado de viver um simulacro, de ser um imperador que não é nem foi? Não estará cansado de viver o papel que lhe foi reservado pelo espetáculo?

Adriano sofre duras acusações: como pode um jovem que ganha milhões se deprimir? Como pode não se sentir feliz em Milão? Há pessoas que parecem crer realmente que cidades como Milão e Paris representam a felicidade.

Mas Paris e Milão são exatamente como Porto Alegre ou Palomas para quem nelas vive. O que mais choca, entretanto, no comportamento de Adriano é o fato de ele fugir para a favela da sua infância, no Rio de Janeiro.

Adriano saiu da favela. Mas a favela continuaria em Adriano. Alguns tomam isso como um atestado de falta de maturidade. E se fosse, ao contrário, uma demonstração poderosa e anacrônica de caráter, de autenticidade e de sentimento? Adriano ama o Brasil, a sua gente, sua família. Só se sente realmente feliz na sua aldeia (a favela), de pés descalços, soltando pipa e brincando com gente como ele.

Adriano viu e conquistou o mundo. Tem mansão e passa os dias em hotéis de luxo. Pode comprar a favela. Aquilo que procura, no entanto, não pode ser garantido pelo dinheiro. Quer suas sensações de menino, suas alegrias de criança e talvez até os cheiros, cores e algazarras de quando era guri. Admiro isso. A nostalgia da aldeia é um fenômeno que aparece em clássicos da literatura.

Eu mesmo, na minha escala mínima, sonho todos os dias com Palomas. Claro que Palomas, como diria o poeta, não há mais. Talvez nunca tenha havido. Mas existe. A favela é a Palomas de Adriano.

Eu me identifico com ele. Detentor de uma fortuna, Adriano talvez se pergunte: 'E agora? Que faço com tudo isso?'. Talvez queira mesmo aproveitar a juventude e fazer festa. Por que não? E se estiver deprimido por causa de uma decepção amorosa? Seria lindo.

Só posso admirar um homem que se atreve a romper com tudo para voltar a soltar pipa na aldeia da sua infância. Meu amigo Ilgo Wink me alerta que tudo isso pode não passar de uma farsa. Pagarei um baita mico. Sou romântico.
arte pedro dreher sobre fotos cp memória

juremir@correiodopovo.com.br

Nenhum comentário: