08 de setembro de 2008
N° 15720 - PAULO SANT’ANA
Que tempos!
Ainda as reminiscências: sou do tempo da cera de carnaúba. Sou do tempo do Conhaque de Alcatrão São João da Barra, do Abrigo da Praça 15.
E ainda me lembro bem do tempo do Sabão Aristolino, líquido. A Cafiaspirina existia muito marcadamente no meu tempo, é possível que ainda exista, mas sobrevieram muitas drogas análogas e isso me confunde.
Sou do tempo da gasosa. E sou do tempo do Hidrolitrol, um refresco de sifão que se tomava ao lado da loja do saudoso Chico da Bruxa, na Rua da Praia.
Eu me orgulho de ser do tempo do guaraná de rolha, pouca gente recorda isso. Sou do tempo do eslaque e do Linho S-120. O traje de linho branco era inseparável no verão da elegância masculina.
Sou do tempo do Boa Noite, do Ipril e do Flit, no tempo em que os mosquitos infestavam a cidade, nem sei quem foi que, como secretário da Saúde, acabou com os mosquitos, se o Jair Soares ou se o saudoso Lamaison Porto. Por isso é que toda a cidade usava mosquiteiro de filó.
Sou do tempo dos cobertores Parahyba, das lojas Tschiedel e Brutske.
E sou do tempo da Quina Petróleo Juvênia, da Acqua Velva, da pedra-pomes.
Sou do tempo dos bondes Petrópolis até João Abbott e Ivo Corseuil, do Teresópolis até a Pedreira, do Partenon até Luiz de Camões e Portuguesa, bonde Duque, que sempre era gaiola, do Gasômetro, precursor desses ônibus que hoje se intitulam, ainda não atinei por que, de Ts, fazia volta em todo o Centro, Bom Fim e Cidade Baixa, também do bonde Glória até Rua Nunes.
Sou do tempo em que nos bondes havia cobrador, motorneiro, fiscal, subinspetor, inspetor e chefe de linha.
Antônio Giudice, que me salvou quando eu era criança num incêndio na Rua Botafogo, era chefe de linha.
Sou do tempo em que sutiã se chamava corpinho, do tempo da Lambretta e da Romi-Isetta, precursoras precoces das motocicletas de hoje.
Sou do tempo do Simca Chambord, do Gordini. E no meu tempo havia Manteiga Deal, o Renner, o Nacional da Chácara das Camélias, o Força e Luz da Timbaúva, o Grêmio do Fortim da Baixada, o Internacional dos Eucaliptos, o Cruzeiro da Colina Melancólica.
Sou do tempo do quebra-cabeças dos 15 números, do arquinho de aço empurrado pela trave, da bola de meia, do Carnaval do Clube Dinamite e do Panamirim. Ah, que tempos saudosos aqueles em que a marchinha mais tocada em todos os bailes era Alalaô.
Era o tempo da Banda das Dores, do Rosário e do Julinho. Ah, se me lembro e tanto do mil-folhas e da Coca-Cola no intervalo das aulas do Julinho, foram a primeira angústia que tive em minha vida, todos comiam no recreio e eu não tinha dinheiro para comprar.
Sou do tempo do lança-perfume Rhodia de embalagem dourada de metal, dos carrinhos de lomba nas competições da Rua Dom Pedro II, do pé-de-moleque, da rosquinha de polvilho, do creme de abacate, da bomba e do suco de salada de frutas da Banca 40 no Mercado Público.
Sou do tempo do Baile da Reitoria e da Cabana do Turquinho, dos bailes no Mil e Uma Noites, do passeio de barco no Lago da Redenção, da orquestra do Ary Barroso e outros grandes nomes nacionais no auditório da Rádio Farroupilha, na Duque, junto do Viaduto.
Sou do tempo das corridas de carros na Cavalhada, do Catarino Andreatta e do Norberto Young, que se não me engano era um piloto que só tinha um braço, não sei como dirigia.
Sou do tempo das nozes e das avelãs no Natal, dos ovos de açúcar e massa na Páscoa, do Congresso Eucarístico Internacional no Parque Farroupilha.
Sou do tempo dos blocos da Carnaval Céu Azul, Aratimbó, Nós os Democratas e das tribos As Iracemas, Xavantes, Caetés e Bororós.
Sou do tempo, finalmente, da Casa Reinaldo, “a maluquinha da Praça do Portão”, o slogan referindo-se ao dono, que era homossexual.
É bobagem, mas foi um tempo que tinha alma.
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