sexta-feira, 12 de outubro de 2007



12 de outubro de 2007
N° 15391 - Paulo Sant'ana


Baile de máscaras

Assisti na madrugada de quarta-feira a um vídeo de sessão de terça-feira no Senado.

Todas as lideranças do Senado, com poucas exceções, manifestaram da tribuna, olhos nos olhos do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que presidia a sessão, os seus apelos para que o presidente do Senado se licenciasse do cargo e pusesse fim à séria crise que vive aquela Casa.

Renan a tudo ouvia indiferente aos apelos. Em determinado instante, os apelos viraram súplicas.

Até que Renan Calheiros saiu da cadeira presidencial e dirigiu-se à tribuna.

Novamente se declarou inocente de todas as acusações e por isso firme na sua intenção de não se licenciar da função.

Foi aparteado três vezes, sendo que na terceira portou-se de forma deselegante com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), retirando-se da tribuna e declarando que desconhecia e desconsiderava o aparte do senador petista.

Renan perdeu o controle da direção dos trabalhos quando o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), em meio a seu discurso, chamou ineditamente uma gravação de um diálogo em que se provava que houvera uma reunião em Goiás para espionar o orador e o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE),

fato presumidamente comandado por Renan, tendo ido ao ar a gravação, acontecimento por todos os títulos incomum nos plenários dos parlamentos, o que levou diversos senadores a declarar que o Senado estava virando uma "delegacia de polícia".

Havia no ar um constrangimento, via-se claramente que os senadores tinham se reunido e combinado que fariam pronunciamentos individuais, pregando o licenciamento do presidente do Senado.

Alguns cumpriam a obrigação, via-se, contrariados. Mas, é claro, dias antes o mesmo Senado havia absolvido Renan Calheiros da acusação de receber de uma empreiteira o custeio de uma pensão alimentícia que ele devia.

Ou seja, na hora da decisão, como o voto era secreto, salvaram Renan. Agora, para jogar para a torcida, pediam o seu licenciamento.

É impressionante a capacidade de resistência de Renan Calheiros. Hercúlea. Ele parece conhecer como ninguém com que senadores está lidando, a maioria deles comprometida com ele, embora não possam transmitir ao público e ao eleitorado que, quando forem embretados para uma decisão, o salvarão novamente.]

Tenho assistido, há anos, muitas vezes furando a madrugada, à TV Senado. Vi outras vezes, e vi nesta sessão a que me refiro, senadores que são pilastras da oposição tremerem como vara verde na tribuna ou em seus assentos, quando tiveram de censurar Renan ou quando por ele foram ameaçados sibilinamente com denúncias.

Renan impõe medo no Senado. Porque sabe demais. E é esse medo que o tem salvado. E vai continuar salvando-o no meu controle sensorial.

Ele impõe medo e não tem medo.Por isso talvez seja um dos mais poderosos homens da política brasileira.

A pressão foi muito grande e afinal, ontem, Renan cedeu estrategicamente e licenciou-se da presidência. Vai fazer sua defesa como um senador comum. Mas ele não é comum, mesmo fora da presidência exercerá controle sobre seus pares.

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