quinta-feira, 11 de outubro de 2007


Artigo - Dad Squarisi
Correio Braziliense - 11/10/2007


Além do gerúndio

A demissão do gerúndio deu o que falar. Provocou discussões estilísticas e lingüísticas. O ato inusitado também deu margem a gozações. Virou piada e motivo de chacota.

Amenizado o tumulto, o pai da criança se pronunciou. Em artigo publicado ontem no Correio, José Roberto Arruda disse ter usado a forma verbal como símbolo. Ela seria a cara da ineficiência do setor público. As leis existentes facilitariam a corrupção e inibiriam a ação.

O governador bateu no que viu e acertou outros alvos. Sem dúvida, a legislação pode e deve ser aperfeiçoada. Muitos dispositivos emperram o processo, encarecem o produto e não atingem o fim a que se propõem. É o caso da Lei de Licitações.

Tramita no Senado projeto de lei que a moderniza, aumenta a competição entre os candidatos a prestar serviços para o governo, força a redução dos valores dos contratos e dá clareza aos procedimentos.

Com mais transparência, obtida sobretudo com o pregão eletrônico, a corrupção terá freios.

Tão ou mais grave que a obsolescência das leis, é o sucateamento moral da carreira de servidor público. Bodes expiatórios da crise do Estado, coube aos funcionários pagar injusto tributo há anos.

A profissão se tornou pouco atraente e quadros se evadiram. Resultado: grande parte dos serviços estatais se deteriorou. A queda ocorreu em momento estratégico.

Era hora de ajustar a administração para nova mentalidade competitiva. A globalização exige adestramento e eficiência. Nós andamos na contramão.

A gestão deve ser lembrada. Estranhos no ninho ocupam cargos de direção. Chegam lá de pára-quedas.

Chefes sem perfil de chefe e sem conhecimento da máquina, não sabem mandar nem fazer cobranças. Deixam a coisa correr solta. Os funcionários, profissionais submetidos a concursos pra lá de concorridos, dividem-se em dois grupos. Uns acham bom.

Sem vocação, agarraram o emprego que havia. Outros se decepcionam. Esperavam mostrar serviço. Mas ninguém quer ver. Uns e outros, exigidos, conjugariam os verbos em todos os tempos e modos. Mas, na moleza, gerundiam.

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