quinta-feira, 11 de outubro de 2007



11 de outubro de 2007
N° 15390 - Paulo Sant'ana


Pressa, a sempre culpada

Esse acidente rodoviário ocorrido no oeste catarinense é uma das mais inacreditáveis tragédias já acontecidas no Brasil.

Em primeiro lugar, pelo número de vítimas: 27 mortos e 88 feridos é uma cifra que se adapta mais a um acidente aéreo do que a choque de veículos em uma BR.

E em segundo lugar pela estranha rota percorrida pelo caminhão que originou o segundo acidente, aquele que esmagou para a morte mais 16 pessoas, além das 11 que já haviam morrido uma hora e meia antes, no primeiro acidente.

Não se compreende como pode esse motorista de caminhão que provocou as 16 mortes restantes ter querido se adiantar a mais de um milhar de veículos que estavam parados em fila indiana, aguardando que fossem socorridas as vítimas do primeiro acidente e removidos os veículos envolvidos no choque.

Esta é a primeira incredulidade. A segunda é como pode terem deixado a pista da contramão livre e desimpedida por cerca de dois quilômetros, sem nenhum óbice, oferecida ao apetite de pressa do motorista que causou o segundo acidente.

O segundo e mais grave acidente é inexplicável. Não há como entender-se que um motorista de caminhão, vendo que a faixa geminada da direita era inteiramente ocupada pelos veículos estacionados à espera do deslinde do primeiro acidente, possa ter tido o desplante e a agressividade de desenvolver velocidade em torno de 100 km/h, quando toda a aparência do local, durante 1,5 mil metros, era de emergência, expectativa e tensão pelo acidente ocorrido lá adiante.

O que vemos à distância, com os dados de que dispomos, é que um motorista de caminhão considerou a si próprio como um ser privilegiado, capaz de passar à frente de centenas de outros motoristas que estavam obedientemente na fila de espera na rodovia.

Em outras palavras, um espertinho. Uma pessoa que se julgou mais diligente que os outros todos que esperavam, para ele uma multidão que desconhecia ser possível furar aquele bloqueio todo.

E foi em frente. Para o que desse e viesse. O impressionante é que ninguém o atacou, certamente porque todos os agentes de autoridade estavam empenhados em remover os escombros materiais e pessoais do primeiro acidente.

É muito inverossímil que o motorista do caminhão indigitado tenha perdido os freios. E até não interessa se os freios do caminhão deixaram de obedecer, diante do fato principal de que o motorista trafegava na contramão, em alta velocidade e tinha finalidade de passar à frente da enorme fila pela esperteza.

Sou autor de uma teoria de que as maiores aflições do trânsito, portanto as mais graves infrações, se dão por pressa dos motoristas.

A pressa é fator concorrente com o álcool, sempre presente na maioria dos acidentes. E pressa quer dizer tentativa de passar os outros para trás. A pressa leva à morte, leva aos choques, leva ao desatino.

E finalmente: a alegação da mulher do caminhoneiro de que ele lhe disse que faltaram freios cai por terra, quando se sabe que ele podia ter desviado o caminhão para a direção do acostamento, quando pressentiu que ia atingir a pequena multidão que socorria o primeiro acidente.

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