quinta-feira, 11 de outubro de 2007



11 de outubro de 2007
N° 15390 - Luiz Pilla Vares


O fascismo está vivo

De saída afirmo que não vi o filme Tropa de Elite, a mais discutida obra cinematográfica brasileira dos últimos tempos, mesmo antes de sua estréia nas telonas. Como não uso cópias piratas - um escândalo que o filme tenha sido pirateado mesmo antes de entrar em circuito - não escrevo sobre o filme, mas a respeito da discussão que em torno dele se gerou.

Muitas opiniões respeitáveis afirmam sem meias palavras que o filme de José Padilha é "fascista". Dias atrás, um cronista gaúcho (do qual sou leitor cativo) escreveu apressadamente que o "nazismo está fora de moda".

Outro cronista, este de São Paulo, o ótimo José Geraldo Couto disse na Folha de S.Paulo do último sábado de sua surpresa sobre o recrudescimento da "barbárie" em pleno século 21, citando inclusive o caso dos neonazistas infiltrados na torcida gremista em Porto Alegre.

Minha opinião é de que ambos estão equivocados. Desde o fim da Segunda Guerra, o fascismo nunca esteve tão em moda como agora e nem a barbárie tem aumentado tanto no mundo todo como neste início de novo século.

Que o diga o ódio crescente aos imigrantes na Europa, a presença marcante do fundamentalismo de todas as espécies, o ressurgimento do espírito guerreiro, o inconsciente coletivo que aceita a banalização da violência como forma de ser natural e a tortura como um modo aceitável de combate ao narcotráfico.

E ainda pior: o presidente russo, Vladimir Putin, falando do futebol de seu país, critica a presença "exagerada" de negros estrangeiros, enquanto um bispo polonês dirige uma rádio de opiniões francamente anti-semitas.

Voltando ao filme (que não vi nem sei se vou ver), é escandaloso que platéias compostas pela classe média aplaudam delirantemente as cenas de tortura.

O diretor Padilha diz que não teve a intenção de fazer a apologia dos métodos bárbaros para enfrentar o narcotráfico. Qualquer obra de arte, porém, vai muito além das intenções de qualquer autor.

E se as platéias que já assistiram Tropa de Elite aplaudem as cenas de tortura é porque as imagens (e o cinema é uma arte da imagem) lhes dá base para isso. É claro que não defendo a censura para nenhuma arte, seja qual for a ideologia que dela provenha e se dissemine.

O que me move neste pequeno texto é a preocupação com as demonstrações cada vez mais claras de intolerância, racismo e preconceitos que vão se alastrando pelo mundo contemporâneo e a tolerância com que os meios de comunicação tratam o problema, além da esperança injustificável com que milhões de pessoas encaram o novo século.

O fascismo, em nosso tempo, não está restrito a alguns grupos isolados como os "skinheads" de Porto Alegre. Lembram-se do notável O Ovo da Serpente do imortal Ingmar Bergman?

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