03 DE JANEIRO DE 2019
DAVID COIMBRA
O PT estava certo em não participar da posse
Os petistas fizeram bem em não participar da posse de Bolsonaro. Se participassem, seria constrangedor.
Em seu discurso no Congresso, o presidente até tentou ser conciliador, falou em acabar com as divisões e brincou que estava "casando" com os parlamentares. Pouco depois, porém, diante do "povo", na Praça dos Três Poderes, Bolsonaro não se conteve. Comportou-se como se ainda fosse candidato, bradou que o Brasil estava se livrando do socialismo e do politicamente correto e chegou a prometer que verteria sangue vermelho para defender a bandeira verde-amarela.
Que bobagem.
Bolsonaro tem de reprimir seus ímpetos populistas. Ele agora é o presidente de todos os brasileiros, inclusive dos petistas, dos psolistas e dos politicamente corretos. Aliás, o que é exatamente o politicamente correto contra o qual luta o presidente? Sua mulher, Michelle, foi politicamente correta ao discursar usando a linguagem de sinais, e ele parece ter gostado do que ela fez.
Quem é politicamente correto, de fato, pode ser muito chato quando fica julgando as outras pessoas, mas, em geral, o politicamente correto é um avanço nas relações sociais. Porque, se é verdade que certas brincadeiras ou piadas poderiam ser toleradas, porque são só brincadeiras ou piadas, também é verdade que houve (e há) perseguição insuportável a quem é "diferente". O politicamente correto às vezes exagera, sim, mas também faz com que as pessoas tratem com mais respeito as outras pessoas.
Logo, esse combate que Bolsonaro alega pretender travar não é o "bom combate", como diria Paulo de Tarso, além de ser bastante subjetivo. E mais: o presidente da República não tem nenhum poder nesse setor da vida do país. Não existe lei, projeto ou decreto que seja capaz de regular questões morais, a não ser que se esteja sob o tacão de uma ditadura como a Coreia do Norte.
Outro ponto: socialismo? O Brasil nunca foi socialista, assim como nunca foi capitalista. Em vez de capitalismo, o Brasil sempre teve o patrimonialismo; em vez de socialismo, o Brasil sempre teve o paternalismo.
Bolsonaro se sai melhor quando dispensa a ladainha demagógica e trata das questões sérias do país. Que, realmente, precisa de um pacto, como pediu Onyx Lorenzoni em seu pronunciamento de ontem. O Brasil precisa se pacificar. A crise econômica faz mal a todos, os dramas da segurança pública são os dramas de todos. Logo, seria bom que todos ajudassem na solução desses problemas. Mas essa união não será cimentada com palavras de ordem ou arengas agressivas. Essa união só será cimentada com diálogo.
Se Bolsonaro tivesse sido sempre ponderado, como foi em seu primeiro discurso, os petistas se sentiriam envergonhados por não ter participado da cerimônia republicana da posse de um presidente eleito. Como, em sua segunda manifestação, ele se valeu da linguagem vulgar da campanha, eles se sentiram aliviados. A oposição só será responsável se o governo for equilibrado. A união só acontece quando quem briga pede a paz. O Brasil necessita do Bolsonaro sensato, não do fanfarrão.
DAVID COIMBRA
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