sábado, 24 de agosto de 2013


25 de agosto de 2013 | N° 17533
PAULO SANT’ANA

As cinco canalhices

Confessei publicamente em minha coluna de ontem que sinto ódio por alguém.

Suponho que eu deva ter alguma vergonha em confessar meu ódio, afinal é um sentimento tão mesquinho, que chega a ser abjeto.

Esse sentimento, devo reconhecer, é uma substituição para o fato de que não pude vingar-me de meu agressor. Como não consegui responder à altura da agressão, visivelmente estou substituindo minha impotência pelo ódio.

Não me venham dizer que o ódio só habita corações de pessoas insensíveis.

Já expliquei que Jesus foi tomado de ira ao expulsar do templo os vendilhões.

Consolo-me no fato de que, se até Jesus sentiu ódio e exasperação naquele episódio, de mim não se deveria exigir reação menor.

Logo eu, que sempre exaltei as virtudes do perdão, do esquecimento, da misericórdia, da benevolência.

Eu já descobri, no entanto, por que estou odiando tanto esse alguém. É que minha, posso dizer, larga experiência com esse meu odiado me fez crer que ele era uma pessoa superior, incapaz da mesquinhez brutal com que me brindou.

O que me fez odiá-lo, portanto, foi a decepção por seu triste gesto, a sua reação despropositada me apanhou à traição, não pensei que ele fosse capaz de tamanha agressão.

O mais impressionante é que esse ódio permanente e, para mim, infindável que estou sentindo está se tornando um companheiro de todas as horas, uma bengala que equilibra o meu estado emocional e cerebrino.

Não existisse esse ódio, eu tenho certeza de que soçobraria.

Esse ódio passou a ser para mim uma função vital. Sem ele, não poderia continuar existindo, é o que suponho.

Cheguei à conclusão de que entre as cinco grandes canalhices que sofri em toda a minha vida, essa foi por mim considerada a pior pelo apreço que tive por esse quinto canalha. Ele me conquistou pela amizade, pelo fino trato.

Pouco estou ligando para as outras quatro canalhices. Foram praticadas por quatro canalhas clássicos, de quem nada mais se podia esperar senão aquelas patifarias.

Mas este último não. Este ganhou a minha confiança e a minha admiração, o pulha por vezes chegou a encantar-me.

Vejam bem o declínio emocional que tive, do encantamento proporcionado pela amizade até o ódio em face da canalhice.


Mas, enfim, a gente está na Terra é também para vivenciar esses trambolhões.

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