quarta-feira, 28 de agosto de 2013


28 de agosto de 2013 | N° 17536
ARTIGOS - Cristiely Carvalho

O saboroso agridoce

Até esta quarta-feira, o Estado destaca campanhas e debates dentro da programação da 19ª Semana Estadual das Pessoas com Deficiência Comunicação e Informação: Eliminando barreiras, construindo horizontes. O tema deste ano descreve bem a vida das pessoas com deficiência, de que falo com conhecimento de causa, tendo em vista que minha família é composta por três deficientes visuais, entre os quais me incluo.

Com esses eventos, percebo que estamos longe do ideal ao falar de acessibilidade, porém aos 24 anos acompanhei os avanços em diversas questões sem resposta para pessoas antes excluídas do meio social. A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece que o ensino escolar para pessoas com deficiência seja oferecido preferencialmente em instituições regulares de ensino, havendo, quando necessário, apoio especializado para os alunos com necessidades especiais.

Contudo, antes de a lei entrar em vigência, em 1995, minha irmã, que é cega, já estava incluída na escola comum, com crianças “videntes” e professores que, ao longo dos anos, foram aprendendo como ensinar, incluir e conviver diariamente com alunos deficientes, graças ao esforço coletivo de pessoas dedicadas. Entretanto, viver no mundo “normal” exige estimulação, apoio e puxões de orelha para corrigir a postura errada, adaptar-se à falta de acessibilidade e, principalmente, compreender diariamente que fazemos parte de um ambiente ao qual precisamos nos adaptar, pois ele não se moldará a nós.

Local de disseminação do conhecimento, a universidade mostrou-se despreparada quando algumas pessoas sugeriram a troca de curso devido à incompatibilidade do jornalismo com a deficiência visual. Porém, este problema foi compensado com incentivo e êxito no fim do curso. No mercado de trabalho, conheci a alegria do trabalho voluntário até conquistar o primeiro emprego em um hospital, onde ensinei, mas aprendi muito mais.

A estimulação da família, o acesso à informação e contato permanente com o real moldou minha personalidade para vida e trabalho, pois sou adaptada a mudanças, virei multifuncional. Apesar das limitações da deficiência, estou preparada para dificuldades e momentos de crise. Dessa forma, se os deficientes aceitarem suas limitações, estiverem dispostos a novas rotinas e tiverem paciência e coragem, terão uma vantagem na chegada ao mercado de trabalho, a experiência de vida.


*JORNALISTA

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