quinta-feira, 29 de agosto de 2013


29 de agosto de 2013 | N° 17537
PAULO SANT’ANA

O chatódromo

Concordo plenamente que todo ambiente de trabalho tem de contar com um fumódromo adjacente.

Mas tem também de ter um chatódromo adjacente, onde sejam colocados os chatos infernizadores. Seria interessante arranjar um chatódromo, em que fossem reunidos todos os chatos para chatearem uns aos outros.

Eu gostaria de ver esse chatódromo. Porque chato que se preze só chateia quem não é chato. E chatos chateando chatos nos fumódromos será o maior espetáculo da Terra, podem cobrar ingresso para ver esse milagre.

Um dos apanágios dos chatos é proibir aos outros as coisas que eles não fazem. Todo chato é proibitivo. Ele se realiza impedindo os outros de fazerem algo. O chato se esmera em ver o que outro gosta de fazer e dá um jeito junto à direção de proibir isso. Quando baixam o ato proibitivo, o chato chega ao orgasmo.

Quanto ao cigarro, o chato sempre esteve na crista dos movimentos que proíbem o uso do fumo. Não tenho nada contra quem não fuma, mas é absolutamente certo que todo chato não fuma. Se ele fumasse, não seria chato.

O chato não fuma, não bebe, a característica básica do chato é não ter vícios criticáveis. O chato não deixa rabo, sua conduta é reta. O chato só tem uma vantagem, ele não é corrupto. E se aproveita de sua incorruptibilidade para livre trânsito na crítica a todos os comportamentos dos outros que ele considera criticáveis.

Outra característica básica do chato é que ele se encoraja sempre a partir para a ofensiva. Na defensiva, ficam sempre os chateados, à espera de que o chato tome sua infalível iniciativa irritante.

Outra coisa que observo: o chato vai para o céu. Porque ele não peca. Se ele pecasse, não teria salvo-conduto para chatear. Se o chato tivesse defeito, ele não teria autoridade para vir chatear os outros.

Portanto, ficamos acertados: o chato é incorruptível, não peca e é um modelo de pessoa. O único problema dele é que só sabe chatear.

Mas este problema é básico e essencial.

O chato vive apontando problemas no comportamento dos outros. Para tanto, ele tem de ser modelar, não pode nunca ser apanhado em algum comportamento censurável.

Quando, numa comunidade qualquer, você notar que há uma pessoa que não transgride nenhuma regra escrita ou tácita, aposte que se trata de um chato.

O chato é o exemplo na bacia das almas. Nunca foi punido ou censurado, sua folha corrida é impecável.

Aliás, ao chato só pode ser atribuído, sem nenhuma dúvida, um pecado capital e original: sua chatice.


E bota pecado chato nisso!

2 comentários:

Emanuel disse...

Gosto muito das crônicas do Paulo Santana mas desta sou obrigado a discordar.
Quem nunca conheceu um bêbado chato? Aquele idiota que depois de "chapado" não fica repetindo ininterruptamente as mesmas coisas?
Não dá para aceitar a ideia de que um chato não têm vícios.
Um bêbado chato é dose!

Anônimo disse...

Não acho que tu entendeu direito o texto, Emanuel. Creio que o Paulo não estava se referindo às pessoas que são irritantes, mas sim às pessoas que cara incomodam através de críticas. São todos chatos, mas os críticos tendem a crer que são um tipo de "modelo", exemplo, e por isso orgulham-se em não ter defeitos ou vícios.