quarta-feira, 28 de agosto de 2013


28 de agosto de 2013 | N° 17536
EDITORIAIS

DIPLOMACIA E POLÍTICA

Espera-se que a decisão da presidente Dilma Rousseff de afastar Antonio Patriota e nomear Luiz Alberto Figueiredo para o Ministério das Relações Exteriores reflita um novo momento nas relações entre Brasil e Bolívia. A troca de guarda no Itamaraty foi decidida dois dias depois da chegada ao Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina, que faz oposição ao governo do presidente Evo Morales e estava havia mais de 500 dias abrigado na embaixada brasileira em La Paz.

Os detalhes ainda nebulosos dos bastidores da transferência por terra, a bordo de carro consular, em companhia do encarregado de negócios da embaixada e escoltado por dois fuzileiros navais, numa jornada de 22 horas ao longo da qual o grupo foi interceptado por várias barreiras policiais não devem obnubilar o aspecto de que a Constituição Federal consagra a concessão de asilo político. Independentemente das possíveis conclusões de apurações do Itamaraty e do Congresso, o fato concreto é que o senador conseguiu deixar a embaixada e se reunir a sua família, que já se encontra no Brasil.

Não é de hoje que o governo brasileiro tem agido com excessiva subserviência em relação aos arroubos nem sempre democráticos do governo boliviano. O país vizinho já invadiu refinaria da Petrobras, promoveu revista a avião do ministro das Relações Exteriores, inspeção com cães farejadores a aeronave que transportava parlamentares e manteve torcedores corintianos presos por quase seis meses. No caso particular do senador Pinto, La Paz recusou-se a conceder salvo-conduto para que o parlamentar deixasse a embaixada e, diante do ocorrido, pediu que o Brasil recambie o “fugitivo da Justiça” (Pinto foi condenado em junho por desvio de verba para a Universidade Amazônica de Pando).

Não há justificativa para essa linguagem e essas atitudes no relacionamento entre dois países que, além de vizinhos, têm um histórico de amizade e cooperação. É preciso reconduzir o relacionamento bilateral entre Brasil e Bolívia aos termos adequados, ainda que, para isso, seja preciso enviar recados duros a La Paz.

No momento em que a presidente substitui um ministro de Relações Exteriores de sua própria escolha e que a acompanhou desde o início do mandato, é oportuno que se proceda a uma reavaliação crítica das diretrizes da atual política externa.


O episódio com a Bolívia mostra as insuficiências de um determinado tipo de diplomacia que, por condescendência e leniência, tem confundido solidariedade e respeito aos vizinhos com licenciosidade. Nos últimos anos, o Brasil passou do complexo de vira-lata ao complexo de cachorro grande, tratando com excessiva polidez os mais tresloucados gestos de governos sul-americanos em nome de uma política Sul-Sul que, muitas vezes, falha em resguardar os mais elementares interesses nacionais. Não poderia haver melhor oportunidade para corrigir tal distorção.

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