sábado, 17 de agosto de 2013


18 de agosto de 2013 | N° 17526
FABRÍCIO CARPINEJAR

Foi mal

Quando conhecemos alguém, o mais complicado é acertar as brincadeiras. Afinar o humor. Rir e fazer rir.

É somente pelo riso que nos confessamos.

É somente pelo riso que chegamos ao quarto.

É somente pelo riso que superamos as experiências anteriores.

Arrisco a dizer que o humor é nossa verdadeira nudez. É quando realmente expomos os nossos preconceitos e fragilidades.

Não adianta ser simpático, bonito, inteligente, poético, romântico, dependemos da cumplicidade da graça.

Sem a sintonia das piadas, o casal que está se formando não vai superar as brigas e as diferenças no futuro. Casal longevo é o que ri dos seus problemas, e não transforma aborrecimentos em epopeias. Casal maduro é o que perdoa e segue.

O riso é a porta de entrada de todo o relacionamento. Torna-se a parte complicada da aproximação.

Começar uma história significa conhecer as dores do outro durante a mais pura alegria. Estará animado e, sem querer, cutucará uma cicatriz.

O que pode parecer natural para você pode ser de mau gosto para ela, o que pode soar espontâneo para ela pode ser agressivo para você.

Não podemos nos frear, mas não podemos machucar. Não podemos nos censurar, mas não podemos ferir à toa.

Precisa se soltar, porém conservando a prevenção de que ela não vive em sua cabeça e não se habituou ao seu tom de voz, à sua ironia, às suas preferências.

A brincadeira estimula a intimidade. Aproxima. Apressa o abraço. Só que também pode desencadear incompreensão e incômodo.

O cuidado aumenta com a intensidade do relacionamento: quanto mais dependente de uma resposta mais vulnerável nas palavras.

Você terá que aprender a brincar, e principalmente, com o que não pode brincar.

Esta é a senha: não podemos brincar com tudo.

Ao brincar, desvenderá o que é sério e deve manter distância.

Será um trauma, será um hábito, será uma convicção.

Ela dirá que não gosta, e não insista. Não volte mais ao assunto. Não busque se corrigir provando que a crença dela é insignificante.

Há um território do pensamento feminino onde não é possível debochar ou subestimar, é uma lembrança com cerca elétrica, ninguém entra, nem ela mesma.


Toda mulher adora quem a faça rir, mas o que mais ama é quem descobre o que merece respeito.

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