sábado, 17 de agosto de 2013


17 de agosto de 2013 | N° 17525
NILSON SOUZA

Saudade da Kombi

Depois de 56 anos, a Volkswagen decidiu interromper a fabricação da Kombi porque o projeto do carro não comporta a instalação de airbags, item de segurança obrigatório para os veículos novos fabricados no país a partir do ano que vem.

Antes de sair de linha, porém, a simpática caminhonete terá uma série especial denominada Last Edition (última edição), destinada a colecionadores e apaixonados pelo utilitário que embalou (literalmente) algumas gerações de brasileiros. Somos muitos os apaixonados por esse veículo de mil e uma utilidades, que servia tanto para levar as crianças à escola quanto para fazer aquela mudança que não caberia nem mesmo num caminhão.

Tenho uma história especial com a Kombi, que durante muitos anos foi o carro da família, utilizado por meu pai para entregas durante a semana e para o passeio dominical com a filharada. Pois, numa certa noite lá pelos anos sessenta e alguma coisa, carro e motorista foram requisitados por um tio para buscar sua esposa na maternidade. Pré-adolescente inquieto, escalei-me para ir junto, pensando apenas em dar uma volta de carro.

Ao chegar ao hospital, porém, tivemos uma surpresa típica daqueles tempos de pouca comunicação: minha tia tinha dado à luz três meninas. Resultado: meu pai dirigia, minha tia carregava uma das crianças no colo, meu tio pegou a outra e sobrou para mim a tarefa de segurar durante o percurso de volta um bebê recém-nascido. Para complicar ainda mais, o intruso aqui viajava na parte de trás do carro, que nem sequer tinha bancos, pois era utilizado para transportar pães. Sentado sobre a cobertura do motor, retesado como um soldado da rainha, levei um suadouro, mas cumpri a minha tarefa.

Pois agora, cinco décadas depois, fui descobrir que a filha de uma das trigêmeas é minha colega de trabalho. Ainda não conheço pessoalmente essa prima distante tão próxima, mas pretendo fazê-lo brevemente, até para relatar-lhe esta história familiar. Talvez eu tenha carregado sua mãe no colo. Talvez não. Mas o certo é que aquela Kombi antiga participou de alguma forma do pretérito de sua vida.


Gêmeas também no formato, mas com variações de cor e de acessórios, as Kombis participaram da vida de muitos brasileiros. Deixarão saudade, especialmente de um tempo em que o trânsito era tão civilizado, que nem sequer se poderia pensar em cadeirinhas ou airbags para transportar crianças recém-nascidas.

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