terça-feira, 27 de agosto de 2013


27 de agosto de 2013 | N° 17535
PAULO SANT’ANA

Reprodução no cativeiro

O título acima é aplicado aqui na Zero Hora às pessoas que começam a trabalhar solteiras na Redação e acabam casando-se com colegas de trabalho.

Elas têm filhos, levam o casamento à frente ou se separam, mas celebram no curso do contrato de trabalho um outro contrato, o de matrimônio. E seguem trabalhando como jornalistas no mesmo jornal e constroem famílias e têm até filhos.

A expressão “reprodução em cativeiro” é apenas um bem-humorado qualificativo diante do fato de que são colegas de trabalho que se conhecem no serviço, se apaixonam e se casam.

Nada mais natural que acabem casando-se pessoas que trabalham juntas. Vão todos os dias ao mesmo local, travam conhecimento e relações, muito espontâneo que o namoro e o casamento brotem dessas relações.

O ambiente de trabalho é espontaneamente erigido como sede das relações de idílio. Há até casos de pessoas que se separam de seus esposos (as) e vêm a casar-se com seus colegas.

Isso é natural. Quem passa oito ou nove horas diárias trabalhando no meio de outras pessoas acaba passando mais tempo no trabalho do que no lar, onde gastam cerca de oito horas para dormir, enquanto no serviço perfazem o horário totalmente acordados.

Há um caso aqui na Redação de Zero Hora em que um homem conheceu sua esposa neste ambiente, teve um filho com ela, 18 anos mais tarde esse filho também se empregou em Zero Hora e veio mais tarde a noivar com uma sua colega de jornal, enveredando, então, para duas gerações “reproduzidas no cativeiro”.

Isto acontece quase que naturalmente em empresas longevas. Eu, por exemplo, trabalho há 44 anos em Zero Hora e, não fosse casado antes de ingressar no nosso jornal, fatalmente teria conhecido minha esposa aqui entre os computadores da Redação.

Não é só aqui que acontece isso. Ocorre também em todos os outros ambientes de trabalho. Há casos de garçons de restaurante que se casam com cozinheiras, de seguranças que se casam com telefonistas, todos nas mesmas empresas. Ou seja, o trabalho é ambiente propício para o idílio, para o idílio e até para o casamento.

Tanto que foi objeto de reportagem do jornal o casamento de uma detenta do Presídio Feminino Madre Pelletier que veio a casar-se com um guarda do serviço externo da prisão.

Interessante nesse fato é que ele bate de frente com uma filosofia existencial que manda que as horas de folga ou até mesmo de doces vagabundagens são propícias para o namoro e até para a construção de casamentos.

No nosso caso aqui e no de tantos outros, é o trabalho que inspira o amor. Que não raro, como se sabe, termina até em construção de prole.

Como diz um ditado latino traduzido, onde se labuta é que se executa.

Como recebi meia dúzia de protestos por ter publicado na coluna de ontem uma anedota sobre os males de Parkinson e Alzheimer, apesar de insistir que não tive nenhuma má intenção ao divulgá-la, apresso-me desde já a pedir desculpas pelo que escrevi, que pode, quem sabe, ter ferido raros e respeitáveis pacientes dessas doenças.


Peço perdão.

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