terça-feira, 12 de fevereiro de 2013



12 de fevereiro de 2013 | N° 17341
PAULO SANT’ANA

O lugar dos bêbados

Não se pode esperar de quem é rasteiro outra coisa que não seja baixeza.

Não se pode esperar erudição de quem é analfabeto.

Do mau-caráter só se pode esperar maus-caratismos.

Grandeza só se pode esperar de quem é grande, erudição só se pode esperar de quem é culto.

Por isso é que se criou o ditado de que “ali de onde menos se espera é que nunca sai nada mesmo”.

Do invejoso só se espera inveja, do ciumento só ciúme.

Da autoridade pública ou do chefe em empresa privada que sejam atrabiliários só se espera prepotência.

Do corrupto só se espera venalidade.

Do infame só vêm infâmias, do mentiroso, mentiras e calúnias.

Tudo portanto é esperado, não há surpresas.

Do bêbado só se esperam língua enrolada e passos cambaleantes. Interessante é que nunca vi um bêbado de bengala, o que seria necessário.

E também interessante é que uma coisa é ser alcoolista, outra coisa é ser bêbado.

Há bêbados que não são alcoolistas, são aqueles que só bebem em eventos.

E há alcoolistas que incrivelmente nunca ficam bêbados: dizem que eles bebem muito mas permanecem sempre sóbrios, têm linha.

O autêntico alcoolista é aquele que bebe sempre de manhã. Não suporta ver chegar o meio-dia sem ter bebido um trago.

Outra coisa: há bêbados e alcoolistas que só bebem quando estão em companhia de alguém. Não sabem beber sozinhos.

Há outros que só bebem em aglomerações.

E há os que se fingem de bêbados: conheci um cara que, sempre que aparecia um cobrador para cobrar-lhe uma dívida, ele se fingia de bêbado. O cobrador enchia o saco e ia embora sem cobrar nada.

Há alcoolista que bebe moderadamente e há alcoolista de porre.

Há bêbado que cai e há bêbado que se equilibra.

Em bares, há bêbados que pagam as contas da mesa e há bêbados que só bebem de peru.

Ainda em bares, há bêbados que se comportam e há bêbados que invariavelmente arranjam encrenca e fecham os bares por isso.

Há bêbados que adoram abrir uma discussão que acabe fechando o bar, a fim de não pagar a conta.

Eu já vi bêbados em lugares singulares. Uma vez, vi um bêbado atravessar todo o recinto de uma igreja, sob a expectativa de todos os fiéis, e ir até o padre que recitava a homilia e interromper com suas inconveniências o ritual.

Ele dizia qualquer coisa ao padre que me pareceu ser um pedido para que em vez de água benta oferecessem ali cachaça.

Outra cena muito gozada que vi certa vez, também numa igreja, foi um bêbado no confessionário. Não sei se foi o efeito da bebida, mas como desfiou pecados aquele bêbado para o padre, parecia que não ia acabar mais.

É a tal coisa, as missas são quase sempre pela manhã e aparecem mesmo assim os bêbados: eu não disse lá em cima que o autêntico alcoolista é que o que bebe de manhã?

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