sábado, 16 de fevereiro de 2013



16 de fevereiro de 2013 | N° 17345
DIOGO OLIVIER

A Copa do Mundo é nossa

Toda vez que o secretário-geral da Fifa cobra agilidade nas obras para a Copa de 2014, um espírito nacionalista ultrapassado e velho brota dos rincões mais profundos. O papel de Jérôme Valcke é este mesmo, o de xerife da organização do Mundial. Se ele não puder exigir tudo dentro dos conformes em um evento patrocinado pela entidade que gerencia, então o melhor a fazer é pedir para sair, como diria o Capitão Nascimento.

Mesmo quando o suíço criou um incidente diplomático com o recém empossado ministro do Esporte, Aldo Rebelo, não vi motivos para histeria patriótica. Ele tinha razão no mérito. Jérôme apenas caiu na asneira de usar a expressão “chute no traseiro” ao defender um empurrãozinho para as obras da Copa deslancharem. Depois alegou que, em francês, o termo não tinha conotação tão pejorativa assim.

Uma atitude indesculpável como perder para o Huachipato em casa e colocar a culpa no gramado.

Mas o que apareceu de gente tirando casquinha na onda do Eu Te Amo Meu Brasil foi um espetáculo. Até síndico de prédio distribuiu nota oficial defendendo a soberania nacional.

Há um meio termo entre o orgulho cego e o tom de autocrítica necessário, e nele reside uma relação mais apropriada com nossos colonizadores. Não precisamos organizar uma Copa com a perfeição alemã de 2006. Aliás, nenhum povo do planeta conseguiria. Não temos de competir com a eficiência coreana e japonesa de 2002, nem o charme da França em 1998. Não temos a mesma infraestrutura de serviços públicos dos europeus. Exigir tanto de um país jovem como o Brasil é o mesmo que cobrar maturidade de uma criança em idade pré-escolar em relação aos adultos.

Não somos como eles. Não precisamos ser como eles. Os ingleses são absurdamente pontuais. Nós, não. E daí? Somos menos educados por isso? Os franceses não se abraçam ou fazem escândalo quando se encontram na rua. Nós, sim. Somos menos elegantes por isso?

Claro que existe um nível de organização que precisará ser observado, sob pena de o Brasil pagar mico mundial. Aeroportos, por exemplo. Se os torcedores não puderem se locomover pelas capitais, será uma vergonhosa derrota nacional. É o mínimo do mínimo, mais estádios padrão Fifa. Mas tem o outro lado.

Não veremos grupos organizados fazendo saudações nazistas ou atirando bananas no campo para jogadores negros. Nem nos estádios, nem fora deles, como se viu na Euro Ucrânia/Polônia e se vê a cada rodada nos campeonatos nacionais de lá. Há casos de racismo no futebol brasileiro, mas isolados. Nada parecido à onda de intolerância que assola o futebol do velho continente.

Um dos encantos do Brasil é a miscigenação. Somos uma mistura depovos. Podemos oferecer ao mundo a Copa das pessoas, do bom-humor, da pluralidade, da fraternidade. Os franceses aprenderão a abraçar. Os ingleses aceitarão alguns minutinhos de atraso sem estresse e verão que nem por isso o mundo acabará. Os alemães exercitarão a arte do improviso quando a falha da organização assombrar.

Não temos obrigação alguma de fazer a Copa científica e matemática deles, e sim oferecer-lhes a nossa Copa. Uma Copa do Mundo imperfeita, mas afirmativamente brasileira.

É melhor Jérôme ir entrando no ritmo desde já.

- No dia seguinte ao gramado da Arena passar de anjo a demônio, com poderes malignos para dar a vitória ao Huachipato contra o Grêmio, o Inter anuncia que começará o plantio da grama do Beira-Rio. A semeadura virá antes da cobertura, e não depois, pegando as estruturas abertas e arejadas. É prudente aprender com os erros da Arena, que sofre o prejuízo natural de abrir o caminho multiuso no futebol brasileiro.

- No começo era criativo, uma forma abreviada e carinhosa de designar aquele ídolo. E só valia craque, o que organizava a casa. Então era R9 para Ronaldo, depois R10 para Ronaldinho e assim por diante. Mas agora virou bagunça. Os cariocas estão chamando Thiago Neves de TN10 e Carlos Eduardo de CE10. Parece nome de vitamina.

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