domingo, 3 de setembro de 2023



31/08/2023 - 09h43min
Larissa Roso

Estresse depois dos 60 anos: causas, sintomas e como enfrentar o problema

Processo de envelhecimento apresenta uma série de desafios, como o fim da rotina profissional com a aposentadoria. Sintomas de estresse podem ser físicos ou mentais: falta de concentração, desconforto gastrointestinal, dor no pescoço e nos ombros

É comum projetar uma vida tranquila para depois dos 60 anos, época sonhada para a aposentadoria, uma rotina mais leve e o fim de grande parte dos problemas. Correto? Trata-se de um pensamento simplista. Justamente por causa do encerramento da carreira profissional é que muitos idosos perdem um dos principais elementos organizadores do dia a dia, e tudo que pode decorrer daí, como redução dos rendimentos e instabilidade financeira, torna-se grande causador de estresse.

Reação natural do ser humano diante de mudanças ou agentes agressores, o estresse se torna maléfico quando intenso, com potencial para provocar adoecimento físico e mental. O transcorrer do processo de envelhecimento apresenta uma série de desafios. De acordo com o psiquiatra geriatra Gabriel Behr, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ocorrem, por conta disso, mudanças transitórias e permanentes, capazes de gerar sintomas de estresse, na vida das pessoas. Uma doença crônica como a demência ou a morte do cônjuge são mudanças permanentes. Um evento tipo a aposentadoria provoca mudanças transitórias, que requerem ajustes.

— A aposentadoria não traz só a parada do trabalho. Exige reprogramar toda a vida. É muito comum ver idosos que, a partir daí, passam a conviver mais como casal, o que exige toda uma readaptação para uma vida conjunta. Isso pode gerar estresse ou sintomas de ansiedade e depressão, mas o idoso vai acabar se adaptando em um novo estado de equilíbrio — afirma Behr.

— A pessoa é tomada de um susto por uma mudança radical na vida: queda de renda, perda de status social. Muitas vezes, tem que mudar de casa e tipo de alimentação. Fica com o dia a dia empobrecido. Uma coisa é se organizar: "Quando eu ficar velho, vou plantar orquídea, fazer trabalho voluntário, buscar os netos na escola". A pessoa se sente um ser ainda desejante e inserido no cotidiano, útil para os familiares. Mas se estiver se sentindo um peso, inútil, ela acorda, fica esperando a hora do almoço, dorme, acorda para a novela. A vida fica esvaziada de sentido — comenta Maria Benedita, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Viuvez é desafio maior para os homens

Uma série de outros motivos é capaz de provocar estresse na terceira idade — ou até mesmo desencadear quadros de ansiedade e depressão. A morte de pessoas próximas, especialmente a do cônjuge, é um dos principais gatilhos para estresse, muitas vezes provocando sintomas permanentes, frisa Behr. A viuvez, segundo Maria Benedita, costuma ser um desafio maior para os homens do que para as mulheres, devido às características de comportamento e de autocuidado. A solidão, por sua vez, é outro estressor bastante comum, que tem componentes bem contemporâneos, como a inabilidade para lidar com celulares e outras tecnologias.

— Nunca ficou tão perto estar longe. O idoso pode ter um filho na Austrália e falar com ele duas ou três vezes ao dia. Esse filho pode participar de uma consulta remota com o pai e o médico. Mas o idoso com analfabetismo digital não consegue nem pedir um carro por aplicativo, fica estressado, até com tremores. Os analfabetos digitais ficam com medo de golpes e acabam não tendo banco digital, deixam de usufruir de benefícios dessas coisas novas — observa a psiquiatra e psicogeriatra.

Questões ligadas à saúde também estressam. O idoso que assume o papel de cuidador de um familiar se coloca na desafiadora posição de tomar conta de uma pessoa doente, fragilizada, que pode se descaracterizar de forma profunda, como no caso de uma demência. As demandas físicas e mentais da tarefa geram muito estresse. Por outro lado, há os problemas do próprio indivíduo, como dores crônicas. O idoso acaba tendo de conviver com doenças dolorosas, articulares ou musculares, que podem não causar desconforto fortíssimo, mas são persistentes. A qualidade de vida cai, sobressaindo-se o desânimo pelo fato de o incômodo não cessar. E o envelhecimento traz outras limitações, conforme o psiquiatra Gabriel Behr:

— Quando a gente vai perdendo vigor físico, começa a aparecer a perda de autonomia, apresenta dificuldades para fazer das coisas mais complexas até as mais simples. Frequentemente, precisa-se da ajuda da família e de cuidadores. Isso tudo gera muito estresse.

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