sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016


Jaime Cimenti

Um pouco de tragédia
  
Hegel e a tragédia grega (É Realizações Editoriais, 224 páginas, R$ 44,90, tradução de Agemir Bavaresco e Danilo Vaz-Curado R.M. Costa), do jovem e destacado pesquisador canadense Martin Thibodeau, professor do Collège André-Grasset em Montreal, no Canadá, e pesquisador convidado na New School for Social Research em Nova Iorque, contempla a análise da tragédia grega em quatro momentos diversos do itinerário hegeliano.

Por que Hegel foi conduzido durante toda a elaboração de seu sistema filosófico - de modo simultâneo a Schelling e Hölderlin - a se interrogar sobre o sentido da tragédia grega que conheceu seu apogeu no século V antes de Cristo? O presente livro se propõe a demonstrar que a pergunta hegeliana sobre as tragédias é especialmente ligada ao projeto de radicalização e de suprassunção do kantismo.

Thibodeau é especialista em filosofia alemã dos séculos XIX e XX no arco que se inicia com Kant e se desenvolve com Adorno e a teoria crítica. Na apresentação do volume, os tradutores referem que a obra de Thibodeau já nasce clássica.

Há quem diga que Hegel e a tragédia grega é uma das mais instigantes e importantes obras de filosofia contemporânea disponíveis em português. Com rigor conceitual e explicitação de difíceis questões filosóficas, como a estruturação da ação e os temas e problemas originadores da modernidade, Thibodeau marca presença na historiografia filosófica.

Com essa obra, o leitor compreenderá questões de seu tempo, como o sentido e os limites da justiça, a relação entre a ação humana e a responsabilidade do agir, a intrincada e tortuosa relação existente entre liberdade e destino no curso histórico sempre à luz da centralidade da ação trágica, tal como exposta nas diversas tragédias gregas analisadas no presente livro através da reflexão hegeliana.
Dois adágios de Hegel importam para compreender a presente obra: a necessidade de a filosofia traduzir seu tempo em conceitos e preconizar que num estado de coisas delirantes faz-se preciso forjar novos conceitos. 

Com esses dois conceitos, o leitor vai observar que o livro de Martin Thibodeau não é apenas uma reflexão teórica acerca de temas filosóficos. É um grande ensaio de compreensão do drama da existência humana através de suas expressões estéticas e trágicas.

Portanto, a monumental obra de Martin Thibodeau, antes acessível apenas para leitores francófonos e anglófonos, agora, pelo grande trabalho da Editora É Realizações, está disponível para os brasileiros, justamente num momento de relação importante entre a ação trágica e os destinos da política.

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