sexta-feira, 4 de dezembro de 2015


Jaime Cimenti

Uma família desintegrada pelo Khmer
  
À sombra da figueira (Geração Editorial, 360 páginas, R$ 49,90, tradução de Sandra Martha Dolinsky) é um romance que marca, com raro brilho, a estreia da escritora e professora universitária da Universidade de Cornell Vaddey Ratner, nascida no Camboja. O livro foi finalista do Pen/Hemingway em 2013; Escolha do Livro do Ano pelo Indies Choice Book e traduzido para nove línguas.

A narrativa mostra a saga poética de uma família desintegrada pelo terrível regime imposto pelo Khmer Vermelho no Camboja, Sudeste da Ásia, em 1975. Liderada pelo sádico Pol Pot, considerada a ditadura mais sanguinária do século, executou um plano insano: transformou o país num modelo comunista agrário, ainda que às custas do extermínio de milhares de pessoas. Um terço da população morreu no processo, numa barbárie sem precedentes na história. Um exército de homens incultos e fanáticos esvazia cidades e leva populações inteiras para o interior, onde elas trabalharão como escravas e serão torturadas e mortas, se consideradas improdutivas.

A personagem principal do romance é Raami, princesinha de 7 anos, filha do Rei Sisowath. A origem imperial do pai o leva à morte, mas ele consegue salvar a família. Raami e a mãe ficam para contar a história, num país dominado pela pobreza. Elas comem folhas e insetos. Raami sofre tanto que não consegue falar. O reino doméstico anterior ao "holocausto cambojano" é descrito com lirismo, mostrando a culinária, vestimentas, a flora, a fauna e o "paraíso" onde a menina vivia com a mãe e o pai, que era poeta, e em meio a empregados e a hábitos aristocráticos.

Sonhos infantis e bombardeios andam juntos. A origem da revolução do Khmer foi a desigualdade social e os privilégios das monarquias, uma das quais representada pela família do pai de Raami. No início, o pai de Raami acreditou nos ideais revolucionários, mas aí os extremistas violentos passaram a perseguir intelectuais e matar pessoas de óculos, porque "liam demais".

Acima de tudo, a narrativa, através da voz sensível de uma menina e de um relato poético e belo, mostra o melhor e o pior dos seres humanos, num contexto de ditadura, terror, brutalidade e sobrevivência. Muito além de memórias e de situações familiares e históricas, o romance bem construído, em termos de forma e conteúdo, vale por ser literatura de alto nível e por mostrar que, mesmo diante de situações como a do Camboja, é possível, sempre, manter um fio de esperança e de amor, algo que nos permita acreditar da luz do sol do dia seguinte. 

O custo emocional da sobrevivência é alto, não há dúvida, mas histórias como essa mostram a grandeza do humano.

Lançamentos

O azul mediterrâneo (Buqui, 184 páginas), da advogada e coach Evelyn Cademartori, relata com brilho, emoção e detalhes a reveladora viagem à Itália. Mescla delicadamente informações sobre Florença, Siena, Nápoles, Roma e outros lugares lindos com reflexões sobre seu amadurecimento pessoal.

O fantasma da ópera - Le fantôme de LÓpera (Landmark, 462 páginas), de Gaston Leroux, edição bilíngue português-francês, em capa dura, traz o clássico romance francês, originalmente publicado em 1910. É uma das histórias de amor e terror mais famosas do século XX.

Do arrebatamento (Editora Gazeta, 88 páginas), da escritora e tradutora Cristina Macedo, mestre em literatura e ocupante da cadeira 23 da Academia Literária Feminina do RS, apresenta poemas sobre as emoções do amor, as labaredas de sexo e muita sensibilidade sobre as coisas do tempo.

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