segunda-feira, 2 de novembro de 2015



02 de novembro de 2015 | N° 18343
ARTIGO - DOM LEOMAR BRUSTOLIN*

O ENTARDECER DA VIDA


No entardecer da vida, seremos julgados pelo amor. Assim São João da Cruz, místico espanhol do século 17, sentenciou sobre o fim de nossos dias. Tratar da morte geralmente é muito difícil, porque as pessoas a pensam fora da vida. Morrer faz parte do viver. Gastar tempo, consumir energia, renunciar algo, perder: tudo revela diariamente que a vida é como uma vela que se consome para produzir luz. 

Não duramos eternamente na Terra. Na vida, há também cansaço e busca de repouso. Depois de uma jornada de trabalho, é preciso descansar. Passado o domingo ensolarado, segue o pôr do sol. E quanta beleza há num final de tarde!

Preparar-se para o entardecer da vida não é olhar para a noite da morte, mas perceber que o sol continua a brilhar na vida eterna, onde é sempre dia. Se pensássemos apenas no morrer, colocaríamos o sentido de tudo somente no final da existência. Muitas pessoas tenderam para essa posição e acabaram perdendo o sabor dos dias na Terra. A tentação maior, contudo, é pensar somente no agora, no material, na vida saudável, jovem e bela. Isso é provisório demais e pode gerar um desespero quando os limites começam a aparecer.

A consciência reprimida da morte mata-nos já em vida, e tornamo-nos apáticos em relação aos outros e a nós mesmos. A morte deve fazer parte da estrutura do ser, porquanto não se pode viver sem morrer. Cada processo vital contém em si também um processo mortal.

Tratar da morte sem abordar a vida resulta numa incompletude que revela a falta de algo fundamental, pois a vida e a morte perfazem um todo e complementam-se. Morremos sempre. Morre o idoso, farto de dias, mas morre também o jovem, sedento de vida. Para alguns, a morte conclui a existência; para outros, ela a interrompe. Diz-se até que, ao nascer, o ser humano já é suficientemente velho para morrer. Diante da morte não há argumento e nem respostas. Há somente o ato de fé.

Os cristãos definem a morte como passagem da vida limitada para uma vida plena, em Deus. Ensina o cristianismo que, em Jesus Cristo, apesar de vivermos na limitação do tempo, já somos eternos, porque somos filhos de Deus. É por isso que os cristãos já sabem ser ressuscitados, e a morte não pode lhes separar de Cristo, como proclama Paulo Apóstolo.

Bispo auxiliar de Porto Alegre*

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